|
Quarta-feira, 27 de Dezembro de 2006

Beat-Hoppers
O aparecimento de alguns grupos da Daisy Age (Era do rap positivista e espiritualista), que apostavam em suportes rítmicos mais orgânicos e mais bem compostos musicalmente, como os De la Soul ou os A Tribe Called Quest , e projectos mais recentes como os The Roots , Kanye West , Slum Village etc, trouxe para o movimento Hip Hop um tipo de apreciadores bem peculiar. Muitos vieram da área do funk, do jazz, do soul e outros ainda mais ecléticos foram descobrindo o Hip Hop através desse género de grupos. Eu chamar-lhes-ia de “beat-hoppers”, porque este tipo de admiradores da música Hip Hop caracteriza-se essencialmente pelo fascínio que têm pelos instrumentais. Analisam o groove, a origem dos samples, os drums, a textura sonora, e quase sempre negligenciam o MC, com os seus skills, as suas rimas, o seu estilo, os seus temas etc. Radicalizando, Sam The Kid apontou-os como: “os tais intelectuais que não percebem rimas, só instrumentais”.Resumindo os Beat-Hoppers são aqueles que desejariam que todos os álbuns de Hip Hop fossem álbuns de instrumentais. Acham que o Rap só atrapalha.
Daqui não vem nenhum mal ao mundo, porque as pessoas (mesmo que descontextualizadas) têm direito de retirar e absorver da música aquilo que mais lhes agrada. O problema é outro. O problema é que a critica musical, que hoje se ergue segura de si, dizendo-se especializada em Hip Hop , e que está espalhada pelos jornais, revistas, rádios e blogs, é quase toda ela composta por Beat-Hoppers. Ou seja, a crítica ou pseudo-crítica de “Hip Hop” em Portugal tem patrocinado a morte do Mcing. Eu adoro pastéis de nata, e até tenho sensibilidade gustativa suficiente para perceber quando estão mais açucarados ou mais torrados, mas não é por isso que me vou classificar como um especialista de pastéis de nata, e desatar a escrever artigos sobre o assunto.
Contudo, temos que dar algum mérito aos Beat-Hoppers, porque realmente alguns deles percebem muito de música, e com isso a avaliação que fazem dos instrumentais é muitas vezes cuidada e adequada. E isto tem servido para laurear os produtores mais talentosos, e para inibir ou despertar os produtores menos capazes. O problema é que o pretensiosismo de muitos deles os deixa demasiadamente ingénuos. E muitos realmente acreditam que satisfazem, por exemplo, o Sam The Kid , dizendo que ele tem um álbum primoroso, numa crítica onde gastam 50 linhas para falar dos instrumentais dele, e 2 linhas para falar das rimas e dos skills.
Afrika Bambaataa disse numa entrevista, que cada vez mais lhe agastava essa designação de “Hip Hop music”, porque parece que isso direccionava todo o significado do que é o conceito Hip Hop exclusivamente para a música, e apagava a noção de Hip Hop enquanto movimento e uma cultura de 4 (ou mais) vertentes. Ele dizia também que o termo correcto para o que hoje chamamos “Hip Hop music” nunca deveria deixar de ser “Rap” ou “Rap Music”, porque o Rap apareceu como um estilo musical que ostentava a arte de se debitar versos de forma cadenciada. A arte do Mcing. Rhythm and Poetry .
Na “Rap music” os beats são importantes, hoje mais ainda, mas nunca se tem uma grande música de Rap quando um MC se revela débil sobre o instrumental. E isto é algo que os Beat-Hoppers nunca entenderão. E é por isso que jamais poderão ser verdadeiros peritos de “Rap music”. Os Beat-Hoppers nunca compreenderão que os melhores instrumentais do mundo não fazem necessariamente um grande álbum, às vezes nem quando têm bom MC em cima deles. No outro dia ouvia os sons que Just Blaze (grande produtor) produziu para o álbum “Kingdom Come” de Jay-Z . Gostando-se ou não (pessoalmente não gosto) de muitas das temáticas e das preocupações de Jay-Z , é inegável que é um MC dotado. Mas em cima daqueles 3 instrumentais de Just Blaze , que Jigga pôs no seu álbum, pouco mais podia fazer. São do tipo de instrumentais tão ruidosos, enérgicos e tão preenchidos que ofuscam qualquer MC. Dificilmente daria para fazer brilhar uma letra em cima daqueles beats. Ali está a prova que um bom instrumental e um bom MC nem sempre resulta numa boa música de Rap. Uma boa música Rap, resulta de um acasalamento apropriado entre o instrumental, a letra e o flow do MC, de forma a que o ouvinte se envolva pelo embalo musical sem nunca se desviar ou perder a atracção pelas palavras de comando, que são as palavras do MC. Muitas vezes uma boa música Rap também se consegue com beats medianos. MC's como Cannibus , Royce Da 5,9 , Eminem já o provaram várias vezes. Nas neste seu novo álbum “HipHop is Dead” , tem uma música em acapella, tentando mostrar às pessoas o que é a magia do Rap, a magia da poesia, dos versos, das palavras, do ritmo vocal. É algo que só os HipHoppers sentem. E é por isso que o Hip Hop está morto. Está morto porque a maioria das pessoas que o consomem não o sentem verdadeiramente, não o sabem sentir. Um Hiphopper é aquele que consegue passar madrugadas inteiras na rua a ouvir rappers a cuspir barras em acapella. Isto porque amamos Rap, amamos rimas. Os Beat-Hoppers nunca entenderão isto.
Os Beat-Hoppers perceberão sempre porque é que o Kanye West , os De La Soul , os The Roots fazem álbuns clássicos, mas nunca perceberão porque é que álbuns como “Capital Punishment” de Big Pun , “Stillmatic” de Nas , “Revolutionary vol 2” de Immortal Technique , ou “Ars Magna/Miradas” de Nach (por exemplo) são álbuns incontornáveis na História do Hip Hop. Os Beat-Hoppers serão sempre HipHoppers pela metade.
Texto também incluído na revista IVStreet. www.ivstreet.com
Valete
Segunda-feira, 11 de Dezembro de 2006

Fernando Cabeça na Lua
Sam the Kid no seu single “Poetas de Karaoke” entre outras coisas, faz a reprovação dessa nova vaga de bandas portuguesas que resolve adoptar o inglês como a língua materna das suas canções, evocando razões como a procura da internacionalização ou uma mais refinada musicalidade nas palavras (dizem eles que o inglês é um língua mais musical) para essa opção.
Tudo é legítimo. É legítima a rejeição do português por parte das nossas bandas em detrimento do inglês, assim como é legítima a condenação por parte de Sam The Kid deste comportamento cada vez mais comum nos novos grupos portugueses. As bandas usufruem da liberdade de escolha e de acção, e Sam The Kid usufrui da liberdade de expressão. Aqui está expressa mais uma vitória da liberdade.
É um tema controverso. Mas o mais engraçado de tudo é que a controvérsia que se tem elevado com mais exuberância nem sequer tem vindo deste tema propriamente. A polémica veio da seguinte frase de Sam The Kid:
“ Querem ser os MoonSpell, querem novos horizontes
Mas aqui o Samuel é MadreDeus é Dulce Pontes.”
Até um Ser com duas réplicas de neurónios made in Taiwan, perceberia facilmente que Sam The Kid com esta frase visava as novas bandas que cantam em inglês com a ideia de reproduzir (por exemplo) o sucesso internacional dos MoonSpell. Sucesso este, que é algo de extraordinário e dificilmente reeditável. Uma frase em que Sam referenciava e exaltava os Moonspell e os seus êxitos, e onde distinguia o grupo dos restantes projectos “wanna be's”, foi interpretada por Fernando Cabeça na Lua (vocalista dos Moonspell) como uma frase ofensiva e acusatória para o seu grupo.
Destrambelhado e desnorteado Fernando Cabeça na Lua apressou-se a retaliar (o que não justificava retaliação) com declarações no Correio da Manhã e no fórum dos Moonspell: Entre todo aquele desvario hilariante, destacam-se frases como:
“Fizemos mais por Portugal que qualquer banda de HipHop”
“…continuo a acreditar que existe mais portugalidade numa nota/palavra de Moonspell que em todo o HipHop português.”
Primeiro: Porque é que quando um MC (neste caso o Sam The Kid) exprime a sua opinião sobre um determinado assunto, logo a seguir vêm as bestas arredondadas dizer: “vocês do HipHop”? O que é que o HipHop tem a ver com isto? O Sam The Kid é o Hip Hop? Somos todos iguais? Pensamos todos igual? No Heavy Metal todos se comportam e pensam igual?? Porque é que o Cabeça na Lua tinha que pôr o HipHop ao barulho?? Fernando Cabeça na Lua que falava de paranóias não patológicas em muito do Hip Hop que ouve, assume aqui a típica paranóia patológica desses alegóricos homens boçais e ultra-preconceituosos que precisam de fazer essa homogeneização do HipHop e dos HipHoppers, para assim mais facilmente nos caracterizarem a todos como os “putos dos gangs” que andam de boné ao contrário, armados a assaltar e a agredir pessoas indefesas.
Cabeça na Lua que dizia que ouve HipHop involuntariamente nas rádios e nas Tv's, teve a petulância de afirmar que há mais portugalidade numa nota de Moonspell que em todo o Hip Hop português. Lol, disse isto com a convicção e a altivez de quem conhece como um expert o HipHop nacional. Mais uma vez vítima da sua obtusidade e sobranceria, passou por pateta, porque mais de 90% dos grupos de HipHop português não passam nas rádios nem nas Tv's. Quantos grupos conhecerá Cabeça na Lua? Saberá do que fala? Claro que não…Um problema que poderia ter ficado resolvido com um simples telefonema para Sam The Kid, foi estupidamente exacerbado por Fernando (que perdeu a cabeça na Lua depois do feitiço), que também está a compactuar com uma guerra ridícula forçadamente fabricada pelo jornalismo merdoso do Correio da Manhã que na capa do seu suplemento cultural Êxito exibia o seguinte título: HipHop em guerra com o Heavy Metal. Triste. São estes Fernandos que estamos a internacionalizar?
Valete
Segunda-feira, 11 de Dezembro de 2006

KINGDOME GO
A QUEDA E A CRISE
Senhoras e senhores, ele está de volta. Aquele que é provavelmente o rapper mais dotado do “ego trip” da história do hiphop. O narcisista com que mais estilo se gabou. O alquimista que melhor doseou os elementos pop com a sonoridade das ruas. O artista hiphop mainstream mais prolifico. O "Michael Jordan" das vendas, como ele próprio rima, sendo igual a si próprio, no magistral e inebriante lead single "Show Me What You Got"(just blaze). O campeão das vendas que nunca fracassou comercialmente. O homem que sempre platinou. O carpinteiro das palavras que mais rimou sobre a mesma coisa, de um lado para o outro como o pêndulo do relógio, ora “tica” para o ego trip: Pioneiro do bling-bling rap, mestre em pôr a cabeça de outros mc´s a prémio e a auto-insuflar-se com brilhantismo, ora “toca” para outro lado, embora menos vezes e não tão imaculado, em temas intimistas e biograficos. Com o Jigga tudo gira á volta do ego, como se o estúdio fosse o consultório do Freud, e o microfone o divã onde exploramos o seu ego, super ego e raras vezes a superfície do seu subconsciente, onde estão os medos e sonhos mais recônditos. Em “Kingdom Come” essa raridade está em "Beach Chair" tema abstracto-poético, acompanhado com um instrumental gélido-melancólico que marca a estreia do homem frio dos Coldplay Chris Martin nas andanças do hiphop, e coincidentemente a melhor música, onde vemos um Jigga a falar sobre o transcendente, do além, dos seus demónios que estão a cobrá-lo pelos seus erros passados, fala ainda da sua filha que ainda não nasceu, do seu sucesso e de como não tem medo de o arriscar ou perder porque a vida não passa de um sonho, uma passagem, então decide vivê-la em luxo, em férias permanentes numa cadeira de praia. Este tema revela um Jigga crescido, refinado, a par de "30 Something" (Dr. Dre) um tema fresco engraçado em que ele faz o que faz melhor ao gabar-se que ser trintão é melhor q ter 20 anos e explica porquê. "Trouble" (Dr. Dre) o som da praxe a eliminar a concorrência recheado de punchlines, metáforas e alguns duplos sentidos á mistura. “Minority Report” (Dr. Dre), com o miúdo da casa Ne-Yo(Def Jam) é também um dos pontos altos, porque mostra algo inédito, o Hova a mostrar-se algo politico e hipotético, “e se o Bush tivesse caído do avião com que sobrevoou Nova Orleans e fosse mais um paciente do hospital Bob Hopkins?” (o sample do Kanye a dissar o Bush era inevitável e cai como uma luva) como se estivesse a dizer que gostava que o chefe de estado americano sentisse na pele o que as vitimas do Katrina sofreram, e mostra arrependimento ao dizer que nada fez para alem de doar dinheiro ao mesmo estado que negligenciou aquela gente. Frágil, com voz vulnerável, sobre um beat sinistro do chefe dos beats, Dr. Dre . “Hollywood” com a namorada Beyonce revela Scyience, um produtor new comer, numa música mediana, em que nem a letra nem o instrumental se destacam, fala sobre como Hollywood é a droga mais viciante do mundo e os perigos da mesma, contudo a química entre eles parece transcender a cama e transbordar para o estúdio. As restantes músicas são coisas que já ouvimos o Jay-z fazer melhor, lírica e sonicamente. Just Blaze, Dr. Dre, Kanye West, Swizz beats, Neptunes entre outros, vieram dar um contributo de elite a este álbum, ainda assim, parece-me que o faro que o Jay-z costuma ter para os instrumentais não estava tão apurado, parece que confundiu o vinho de mesa com o Chardonnay , tudo parece apressado. Não correndo o risco de ser mal interpretado, são grandes instrumentais, mas estamos a falar do homem que tirou o melhor que havia no leque de beats do Timbaland, Neptunes, Kanye West, Just Blaze entre outros. Um impulsionador de ventos de mudança sobretudo no final da sua carreira. Estamos a falar de uma lenda reformada que afirmou que o pretexto de regresso era para salvar o hiphop e que ao fazê-lo ia confirmar o seu lugar como Rei.
Sinceramente, “Kingdome Come” é um álbum mediano, sabe a pouco, e ainda a menos sabe quando o comparamos com o hype e a fasquia que se propunha. Parece as sobras ou lado B do “Black Album”. Jigga caiu, numa altura que não podia cair, e já que ele gosta tanto de se comparar ao Michael Jordan, convém então fazer uns reparos, o Jordan voltou á Nba com o objectivo de ajudar a equipa que comprara e pelo amor ao jogo. O Jigga voltou para quê? Se não tem nada de novo para dizer. E se aquilo que está a repetir já foi melhor dito? Não se percebe muito bem. Sobretudo, depois de uma série de participações muito fortes em trabalhos alheios.
Contudo, Acho que se muito, no que respeita ao Jay-z é digno de debate, será consensual também, a incapacidade intrínseca de soar mal. A rima fácil que lhe é inerente, como se aquela mentira que ele sustenta de que não escreve rimas fosse verdade por vezes. Gostando ou não dele, ou daquilo que ele diz há algo de genial no que ele faz, seja numa música com o Kanye West ou numa participação com o Michael Jackson.
Ele está a par da noção que, no mundo de “Hollywood” e da indústria tu és tão bom quanto o teu ultimo trabalho, por isso, desconfio que vai haver um regresso, para uma verdadeira segunda despedida. Até lá, espero que tenha algo verdadeiramente significante para dizer.
2006 registou talvez, 3 platinas de hiphop na América, a contar com o hiphop de borracha e pastilha elástica, há uma crise, Nova Iorque grita e esperneia por Nova Iorque em dezenas de refrões e hinos, mas nada soa a novo. Será que este “Reinado” de Jay-z vai ser certificado platina? Será que o Nas tem razão ao afirmar que o Hiphop morreu? Nova Iorque vai dar a volta por cima? Papoose vai carregando os carregadores e desafiando métricas, Immortal Technique vai preparando os discursos políticos imbuídos de raiva e punchlines, o Nas vai preparando temáticas e poesia de esquina, o Kweli vai afiando palavras…e nós esperamos ansiosos e esperançosos por um melhor 2007. Hugo Salvaterra
Quinta-feira, 23 de Novembro de 2006
Entrevista a Valete – 1ª parte

Entrevista feita exclusivamente pelos membros do fórum da Horizontal
Pelo número elevado de perguntas decidimos partir a entrevista em duas partes e mesmo assim ainda tivemos que deixar algumas perguntas de fora. A 2ª parte da entrevista será colocada brevemente aqui no blog.
Onde é que o valete vai buscar a sua inspiração para as suas letras?
Hoje, devo confessar que o rap de outros mc's inspira-me cada vez menos. Encontro a minha inspiração em debates com amigos, livros, filmes, imagens, entrevistas, discursos políticos etc. Para este álbum houve algo que me inspirou imenso até para o tom e a carga emotiva que levei para o álbum. Foi “A Cena do Ódio” de Almada Negreiros declamado por Mário Viegas. É um exercício quase frenopata do Almada Negreiros, descarregando contra todo esse Portugal inerte, apático e retrógrado. É muito genuíno porque ele até revela alguns dos seus preconceitos mais mórbidos. É um texto clássico da literatura portuguesa. O Sam já tinha samplado uns excertos e usou no álbum “Entre(tanto)”, aconselho a toda a gente .
Qual consideras a tua melhor letra mano?
Obviamente é muito difícil de responder. Gosto de muitas, mas tenho um carinho especial pelo “Revelação” porque era uma letra que em si mesmo encerrava muita dificuldade. Por ser um tema delicado, e pela necessidade de ter que conseguir resumir o meu pensamento de forma a que a música não caísse no marasmo. É um tema difícil não só por ter o diálogo com Deus, mas também por ter alguma dimensão filosófica, por isso é daquelas letras que te separa de outros mc's. É realmente muito mais complexo do que aquele típico rap de estilo livre ou de temas triviais. Gostei muito do resultado final, porque resultou num som bem interpretado, bem argumentado, bem escrito e que capta também a atenção de gente que nem tem afinidades com hiphop. Gente que aprecia escrita pertinente. Acho que é um grande desafio para todos os mc's também fazer ver às pessoas que no rap não se escreve só sobre coisas banais e com pouca profundidade.
Em relação à editora, quais são os lançamentos a curto médio/prazo ?
Poesia Urbana 2 deverá ser o próximo lançamento. Datas já sabem como é, álbum que não atrasa é um álbum suspeito, por isso é melhor nem dizer quando vai sair. A dica é que nós na Horizontal optámos por lançar pouco mas com qualidade, e um bom álbum tem que levar tempo. Quando tens uma editora que lança álbuns a toda a hora é impossível que todos tenham qualidade. São opções, nós preferimos lançar pouco, mas fazer álbuns que as pessoas sintam que valeu a pena comprar. Temos tido sucesso com essa nossa opção, as pessoas têm gostado do que já lançámos.
Consideras-te um anti-tudo o que é grande ?
Muita gente pensa que sim. Mas longe disso, se queres que te diga mano, muitos dos que hoje se consideram próximo do socialismo moderno como eu, o que defendem essencialmente é uma gestão humanista da nossa economia de mercado. Ou seja não há problema que tenhamos multinacionais e grandes estruturas financeiras, desde que não haja exploração de trabalhadores e desde que aproveitemos bem a riqueza criada (através de impostos) por esses grupos económicos para termos mais progresso e justiça social. Quanto ao resto, tem tudo razão de ser. Quando ataco editoras majors, ataco no essencial a politica de se querer fazer dinheiro rápido destruindo a arte. O mesmo para as grandes rádios. Depois tudo o resto tem a ver com humanismo. Sem entrar nessa de boicotar sem fundamento tudo o que é grande, acho que tem muito mais sentido tu dares o teu dinheiro a quem tem pouco do que a quem tem muito. Essa mania das pessoas quererem estar sempre nos maiores shoppings, nos maiores hipermercados, faz com que morra muito do pequeno comércio. Boicoto algumas marcas que sei que têm um historial “criminoso” de exploração e desrespeito pelos direitos humanos, mas sou aquele gajo que se gostar muito dum ténis adidas por exemplo, compro sem problemas. Mas isto claro sem fazer o culto das marcas, porque o que tem valor é o produto não a marca.
O que achas da a política de Fidel em Cuba e de Hugo Chavez na Venezuela?
Fidel e Cuba primeiro. Conheço muito bem a situação de Cuba, não só pela preocupação natural que tenho em receber informação de lá, mas também porque tive vários familiares que viveram na ilha durante muitos anos, e o Bónus também está lá há alguns anos e por isso tenho relatos fidedignos do que se passa in loco, e não apenas feedback dos documentários e notícias que chegam aqui. É uma situação muito complexa, precisaria de milhares de linhas para dizer tudo o que penso, vou tentar resumir ao máximo. Fidel é uma referência para mim, pela coragem, pelos princípios e até pela moralidade. Ninguém pode negar e contestar grandes conquistas que teve a revolução social cubana. Ao contrário do que acontece em grande parte do mundo, em Cuba quase não se fala de antagonismos entre classes porque a luta de classes foi ganha em certa medida. Ao nível da Saúde e da Educação ainda hoje Cuba é uma referência mundial, sendo um dos países com maior índice de alfabetização, e dos países com maior desenvolvimento na área da Saúde. O Desporto e a Cultura também são garantidos de forma exemplar pelo Estado e a esse nível Cuba também é um modelo a seguir. Mas eu ao contrário de alguns esquerdistas doentes, sei reconhecer falhas e algumas graves na gestão política e económica de Cuba. A queda da União Soviética juntando isso ao embargo americano debilitou de forma quase catastrófica a economia cubana e hoje o Estado cubano chega ao ridículo de depender muito das taxas que cobra ao dinheiro que os exilados nos Estados Unidos mandam para as suas famílias. Trotsky há dezenas de anos atrás já tinha alertado para o perigo da burocratização do Estado nos regimes comunistas. E hoje Cuba é um grande exemplo disso. Estado altamente burocratizado, que aliado à pobreza do país tem gerado altos níveis de corrupção. Hoje a cultura de corrupção em Cuba é assustadora e obviamente isso corrompe qualquer revolução social. O que o Fidel Castro tem que perceber é que de nada vale esse comunismo inflexível se as pessoas estiverem condenadas à pobreza. Estamos no século XXI, não podemos governar países baseado em modelos políticos de há 90 anos atrás. Outra coisa que o Fidel também tem que perceber é que só pode haver progresso social com a garantia das liberdades individuais. É verdade que os Estados Unidos financiam jornalistas cubanos para fomentarem movimentos anti-castro e minarem o regime Cubano, mas isso não pode ser desculpa para tudo. Não é desculpa para Cuba ter esse défice dramático de liberdade de expressão e liberdade de imprensa, até para prender e perseguir alguns livres-pensadores e intelectuais injustamente. Também não é desculpa para não haver eleições e para se viver naquela dependência do totalitarismo do Partido Único. Eu jamais serei um desses que resume Fidel Castro à tirania, porque sei que ele é um verdadeiro revolucionário e quer o bem do povo cubano. Mas é essa obcecação pelo bem do povo cubano que o deixa perigosamente conservador e autoritário. Quanto à Venzuela liderada pelo Chavez está bem mais próximo daquilo que defendo. Venezuela hoje tem um regime de inspiração marxista adaptada aos tempos modernos, ao contrário de Cuba que vive mergulhada na rigidez do socialismo teórico. Claro que a situação da Venezuela é diferente porque trata-se dum país rico em petróleo. Mas de forma muito sensata o Chavez mantém um Estado muito presente e regulador, mas aproveita algum investimento privado para impulsionar esse esforço necessário para o progresso económico e social. Chegou a haver alguma expropriação de terras e empresas na Venezuela e como é óbvio isso trouxe grande revolta nas elites que detêm órgãos de informação privados e até hoje tentam criar correntes de opinião Anti-Chavez. A Venezuela antes de Chavez era um país governado por uma elite de políticos que se confundia com a elite do poder económico e que geriam as riquezas do país em seu proveito, cagando completamente para a grande maioria da população que quase nem comia. Chavez tem tentado combater essas desigualdades. Claro que não é fácil, mas pelo menos nota-se a preocupação deste governo de trabalhar em prol do povo venezuelano. Eles há uns anos aprovaram a famosa Lei dos Hidrocarbonetos, e hoje a PDVSA, empresa pública de petróleos da Venezuela que esteve quase para ser privatizada antes da era Chavez, tem o total controlo do Estado e é responsável por mais de metade da exploração petrolífera no país. As riquezas do país já não estão todas na mão de meia dúzia de capitalistas lancinantes como acontecia no passado. Sem a aversão ao lucro, e ao mercado, mas nunca aceitando a imposição do poder económico sobre o país, Chavez tem tentado trazer mais justiça social. E tem sido inspirador para toda a América Latina, hoje a Argentina, a Bolívia, o Chile, até o Brasil (ainda que timidamente) e outros, têm embarcado nesta viragem à esquerda.
Valete tu que sempre demonstras-te ser contra a MTV vais aparecer com o videoclip da musica Anti-Heroi no próprio canal...podes explicar essa decisão?
No dia em que a MTV estiver a passar Promoe, Jill Scott, Tote King e mais boa música achas que o people que hoje critica a MTV não irá ver? Eu critico a MTV porque eles dão prioridade à música de plástico em vez de música genuína. Logo temos todos que criticar. Já dizia Abraham Lincoln, “Tem direito de criticar aquele que pretende mudar”. É isso que tenho feito. Eu não quero a destruição, quero a mudança. Se eles passarem o “Anti-Herói” é já um sinal de mudança nem que seja mínimo.
Depois de saír o Educação Visual, disseste que o Serviço Público ia ser muito provavelmente o teu último álbum, mas em entrevistas recentes já mostras a vontade de editar mais um cd. O que te levou a mudar de opinião?
Disse em 2002,mas o tempo passa, e os teus projectos por vezes também sofrem alterações. Eu queria que o “Serviço Público” fosse um álbum duplo, depois abandonei essa ideia porque podia fazer com que o excesso de músicas tirasse brilho a cada música em particular. A questão principal é a de que quando queres fazer um álbum com qualidade necessitas no mínimo de um ano com muita disponibilidade para entrares nesse processo de produção de um álbum que vai desde a escrita até à masterização. Para além do tempo que disponibilizas, há também um desgaste físico e mental (principalmente na fase da mistura) que acaba contigo. Eu porque estou a ficar mais velho, e provavelmente daqui a uns anos estarei já recolhido no meu espaço com mulher, filhos, e super envolvido no trabalho, sei que não terei muito mais vezes esse tempo que é necessário para se fazer um álbum com qualidade a todos os níveis. A fraca qualidade de alguns álbuns de rap em Portugal não vem só do nível dos mc's, mas muitas vezes também do pouco tempo que eles têm para se entregar a essa tarefa. Tenho mesmo que fazer mais um álbum, porque há coisas que ainda quero mostrar, mas depois desse terceiro duvido mesmo que faça outro, pelas razões que referi. Poderei ir fazendo um som ou outro, mas álbuns será difícil.
Que características tem um rapper de reunir para tu o considerares "bom"?
Primeiro de tudo tem de escrever bem, escrever com pés e cabeça, com inteligência e originalidade. Ninguém pode ser grande mc com textos burros e básicos. Depois só passas a rapper quando consegues cuspir o que escreves com uma boa envolvência musical, ou seja um bom flow. É o flow que separa rappers de escritores. Há manos que até escrevem bem mas não conseguem envolver ninguém quando rimam em cima dum beat. Enquanto não o conseguirem são apenas escritores. Por fim a capacidade de fazer boas músicas. Músicas bem construídas e que caiam no teu ouvido de forma agradável do início ao fim, sejam elas mais mellow ou hardcore. Há rappers que até escrevem bem e têm um bom flow, mas depois têm essa limitação na composição, não conseguem construir boas músicas, ou porque não sabem fazer um bom refrão, ou porque tornam-se monótonos a meio do som, ou ainda por outras razões. Resumindo um bom mc tem que escrever bem, ter um bom flow e ser um bom compositor.
k achas dos teus dik ryders?
Lol, dick ryder é um gajo que tenta ser agradável para ti com o intuito de conseguir algo. Por isso é óbvio que não tenho dick ryders porque nem sequer tenho nada para dar a ninguém, isso tem sentido nos Estados Unidos onde alguns mc's são milionários e famosíssimos, e realmente há pessoas que se aproximam deles para tirar alguma vantagem. É bué genuíno e puro quando um mano sente a tua música ou as tuas opiniões e manifesta isso. Isso é ser real. Eu quando gosto de um mc, sou o primeiro a dizer-lhe, e a manifestar a minha admiração. Os artistas vivem também desse estímulo do público. Não há nada mais puro. O que me faz confusão, são os manos que ficam super incomodados quando alguém está a dizer que te admira e que gosta do teu trabalho. Esses manos parecem frustrados. Mesmo no fórum da Horizontal notas isso. Encontras pelo menos 2 ou 3 manos que estão inscritos no fórum (facilmente identificáveis) e que têm um ódio doentio por mim, vivem aterrorizados com o facto de algumas pessoas apoiarem-me. Falam mal de mim a toda a hora e discordam de mim até quando concordam. Deixam de ser eles mesmos para se entregarem a esse ódio. Isso sim é triste.
Como esquerdista que és, e defensor dos direitos das minorias e todos os que são oprimidos, não achas que renuncias um pouco a esse cargo quando se trata de referires à homossexualidade? É que a par com por exemplo o Immortal Technique, outro rapper com o mesmo tipo de ideologia e linha de pensamento que tu, ambos acabam por referir a homossexualidade nas suas musicas num tom claramente depreciativo e conservador. O que pensas realmente sobre isso?
Quanto ao Immortal não sei. Eu estou muito longe disso mano, creio que pode ter havido uma má interpretação, de alguma linha minha. Neste álbum tenho uma rima que diz “ vocês ultrajam gays e é de serem machos que se gabam, mas de 4 em 4 anos votam naqueles que vos enrabam”, até é uma linha a picar os homofóbicos, creio que não tenho mais referências à homossexualidade. Acho que homofobia é ignorância, e para quem se diz humanista como eu, mais aguda se torna essa posição ignorante. Em todo o mundo os homossexuais são oprimidos e segregados, e o Mundo Novo que defendo terá necessariamente que englobar e integrar todos os seres humanos com as suas diferenças e repelir toda a ignorância que nos tem afastado uns dos outros. Acho que é altamente paradoxal tu seres de esquerda e seres homofóbico.
Nach, o rapper espanhol disse numa entrevista que apreciava muito o rap tuga e Valete em particular, também já te ouvi dizer que o apreciavas bastante. Para quando um som entre 2 titãs ibéricos como vocês são?
Ehehe titã ibérico?? não de certeza que não sou. Gosto muito do Nach. Tivemos algum contacto há um ano atrás, em princípio ele também deverá ter beats do Sam the Kid no próximo álbum. Eu e o Nach ficámos de fazer um som, agora depende muito dos timings de cada um. Ele é super ocupado, eu por vezes também não respiro, mas sem dúvida que seria uma grande honra. Veremos.
Teu videoclip quando sairá?? Achas que será tão bom como “Poetas de karaoke” do Sam.
Datas é fodido, mas espero que esteja a rodar pelo menos em Janeiro. Mas é impossível que seja algo com a qualidade de “Poetas de Karaoke”. O Clip do Sam para mim é melhor clip que já vi de toda a música portuguesa. Está sinistro. O Sam trabalhou com aquele que é provavelmente o melhor realizador de clips em Portugal, teve todas as condições possíveis e imaginárias, e um orçamento apropriado para se poder ter algo daquele nível. Eu não tenho mesmo essas condições, até devo dizer que quando estás numa editora independente estás sempre a correr riscos quando fazes um videoclip, porque podes estar a gastar dinheiro (que já é muito pouco) por um clip que pode não passar em lado nenhum. O “Anti-Heroi” será um clip de baixo orçamento, e pelo som que é até quase nem deve passar na TV, mas eu vou avançar na mesma porque sou um fã de videoclips, e hoje cada vez é mais difícil para quem gosta de rap hardcore como eu, vermos clips dos sons que gostamos mais. Por isso fazer o videoclip do “Anti-Herói” é quase um capricho.
Sexta-feira, 17 de Novembro de 2006

Manifesto
Depois de ter andado uns tempos em reparos atrás de reparos num texto que acabou no lixo, decidi generalizar o problema. O que aqui me trás são as contradições que vejo. Pincipalmente aquelas intimamente ligadas ao Hip-hop, mas de que ninguem fala.
O Hip-hop tem vindo a crescer em Portugal de uma forma razoalmente boa. Mesmo o pouco rap mainstream que temos passa uma boa mensagem e dá uma boa imagem do que é ou deveria ser o Hip-hop. E não quero entrar com nomes nem em discussões de underground e comercial, o que é um facto é que não temos um panorama deprimente como o dos Estados Unidos ou da França. Até aqui tudo bem, a nível de imagem. Com certeza todos sabem do que falo quando repito, com orgulho, que rap é “Paz e amor, son”, a.k.a. “a cultura de rua que se mantem em crescimento, pela Paz, pelo Amor, pela União e Divertimento”.
Mas será que cá em baixo, os mesmos que cantam os refrões de mão no ar, acreditam mesmo nesta mensagem que muitos MC's se esfolam por transmitir? Ou que muitos MC's em ínicio de carreira que andam por aí acreditam mesmo nisto ou apenas o dizem porque fica bem dizer?
Porque a resposta que obti recentemente foi:
“Epah sócio, hip-hop é uma cena, agora sobreviver na streetlife é outra.”
... será?
Não vim aqui dizer a ninguem o que tem que fazer ou achar, mas gostava que seguissem este raciocínio comigo, e que pensassem um pouco. Sobretudo porque estou consciente que se penso como penso é talvez por ter tido uma vida mais fácil que outros.
O valor desta cultura é precisamente a sua translucidade, o facto de dizermos as coisas como são, sem rodeios nem cuidados. O facto de rimar sobre qualquer tema, tabu ou não, mandando fuder preconceitos e aparências. O facto do hip-hop, no fundo, aparecer em oposição à hipocrisia, futilidade, e tantos outros vícios que reinam.
Agora poderia contrapor que infelizmente, não é o que se vê. Mas isto é irrelevante, pois quem é hipócrita dentro do hip-hop está consciente disso, e os seus segredos e mentiras são o alvo de pelo menos uma ou duas músicas de cada album que sai cá para fora. Wacks, byters, fakes, sa foda, não vou estar a bater na mesma tecla, eles sabem. Refiro-me portanto a quem realmente sente esta cena, quem realmente lhe pertence, e a quem realmente ela pertence. Em suma, a quem se sente “real”. Porque mesmo dentro destes, que não são tantos quanto se pensa, há imensas contradições (como no mano que me deu aquela resposta inicial). E contradições não implica logo que sejam fakes e afins, como outros pensam. Não. Muitos deles, como o que me deu a resposta, são manos que sentem mais o hip-hop na pele do que todo o fórum junto. Simplesmente são manos que por várias razões não agem da melhor maneira, e até certo ponto, todos somos assim. Uns porque a vida os habituou a ter que lutar nem sempre da melhor forma, outros porque apenas cresceram entre maus exemplos, outros porque pensam que não têm outra opção, outros porque nunca tiveram ninguem que puxásse por eles... e tantas outras razões. Manos que provavelmente fazem o que fazem por não terem as ideias no lugar. Porque nunca reflectiram sobre o que o hip-hop representa mesmo para eles, ou porque nunca reflectiram sobre o que pensam ser, o que querem ser e o que realmente são.
Vamos pelas palavras.
Paz – Esta primeira opõe-se directamente à violência e ao crime. Valerão realmente a pena todos os estrilhos e conflitos do dia-a-dia? Haverá realmente necessidade da maioria das merdas onde se metem, desde desavenças a roubos? Sejamos honestos. Grande parte, se não quase todos, chega a casa e tem o frigorífico cheio. Ou se não o tem é por desleixe, porque tem na mesma aqueles últimos AirMax's ou aquele telemóvel da pausa. Há muita gente que se esconde por trás desta desculpa dos problemas económicos. Luxo não é necessidade amigos. “Sobreviver” tem um significado muito pesado, e ninguem precisa de um telemovel, de ténis ou de ouro para “sobreviver”, nem na rua. Streetlife é uma coisa, roubo é outra. O crime é sempre uma escolha, mesmo quando não se tem uma vida fácil. Por mais difícil que seja, pode ser evitado, e escolhê-lo é fraquejar. Ha que dar o devido valor a quem mesmo na merda luta pelos seus ideais. Para quem tem um mínimo de condições, deixem-se disso de uma vez por todas, e percebam que o MC e o gajo por baixo do boné são a mesma pessoa. Que Hip-hop e postura são duas coisas indissociáveis. Não podem alegar uma coisa no microfone, e vir à rua fazer outra. Podem ser mais do que mostram, ou não mostrar tudo o que são, mas nunca não ser o que mostram. Escolham entre o mic e o xino, ou sejam como 50's e morram. Mas Paz tambem passa pela tolerância e pelo respeito. Sim, tolerância e respeito. Palavras que de tanto serem repetidas quase perdem o significado. É julgar sempre bem um estranho, até prova do contrário. É não classificar logo um gajo pela forma como se veste. É não tratar as mulheres como objectos e mandar bocas ou apalpar cús a qualquer uma que passe. É respeitar a profissão da bófia e odiar apenas os que a exercem mal, como em tudo. É ser contra todo o tipo de segregação possivel, desde sexista a racista e até homofóbica, que é o que mais custa à maioria das pessoas. É aceitar incondicionalmente as pessoas qualquer que seja a sua orientação sexual, apesar de se esboçarem sempre risos nos lábios quando alguem fala de paneleiros ou travestis. Paz é respeitar e tolerar tudo o que não vos agride.
Amor – Em todos os seus sentidos. Para já, se realmente têm amor a alguma coisa, agarrem-se a ela. Não fraquejem, pelo menos pelo que amam. Se amam o rap e querem ser um MC de respeito, comecem por respeitar-vos vocês mesmos, e em seguida quem merece. Se amam a vossa família, evitem-lhes tormentos e desilusões, tentem fazer com que se orgulhem de vocês. Se amam os vossos amigos como manos de sangue tentem começar por ser um bom exemplo, e puxem por eles quando os vêem a tomar direcções erradas. Se são realmente manos, não têm nada a provar. Dêem a cara por eles, mas não façam merda por causa deles. Se amam alguem, não tenham medo de o mostrar, dêem-lhe atenção e não andem armados em playa's só pelo olhar dos outros. “A minha dama” não é um objecto e, outra vez, Hip-hop passa por reconhecê-lo.
União – Nem sempre é fácil ter esta união que todos proclamam, e é seguramente o ponto mais importante e complicado. Implica imensa coisa e às vezes é preciso muitos esforços para dar o nosso contributo. É humano haver desentendimentos, pois todos erramos, mas o importante é levar o diálogo o mais longe possivel sem nunca deixar que nos pisem ou que façam de nós parvos. Passa pelo respeito de qualquer mc, guardando as rivalidades para as battles. Perceber que a competição é algo que não deve sair para fora da arena e fazer dela jogo limpo, não levando a peito dicas que apenas demonstram exercício de estilo... mesmo que contenham uma grande dose de verdade... Aceitem opiniões diferentes, aceitem críticas, e tentem ensinar a quem não sabe, em vez de rebaixar. Acho que aqui podia dizer mais um milhar de coisas bonitas que nenhum de nós aplica, mas o mais importante é dar relevo à palavra. Pensem no que União representa para vocês, e façam o que acharem que devem fazer. Mas não o digam ignorando o peso do seu significado.
Divertimento – Tanto quanto puderem. Aprendam a se divertirem sem precisar de fumar ou beber, mas desde que seja conscientemente podem me passar a tralha e o filtro que eu faço o resto. Mas lembrem-se... alcool e fumo não são desculpa para nada. Mantenham a consciência dos actos.
Tudo isto são as conclusões a que chego quando reflicto um pouco sobre o porquê de “andar aqui”, e o que isso representa. Façam o mesmo em relação a vocês, e lembrem-se que isto é um ideal. É o ideal que pretendo seguir, aproximando-me dele o quanto puder. Por isso aconselho que depois da dita reflexão, se tentem agarrar ao vosso. Vejam isto como um objectivo a ser alcançado.
Juntos, podemos fazer com que o hip-hop melhore a juventude dos subúrbios, em vez de a desencaminhar. Podemos nos contrapor ao que vem do outro lado do Atlântico. A mensagem que transmite o hip-hop (não os rappers singularmente) depende de todos nós, artistas e ouvintes incluídos. Pareceu-me importante falar destes príncipios de base que se perdem com o tempo, porque enquanto o núcleo for forte, os parasitas não incomodam.
Renegas
Sexta-feira, 20 de Outubro de 2006

“Can't Stop Won't Stop” “Can't Stop Won't Stop” de Jeff Chang é um dos melhores livros alguma vez escritos sobre a cultura Hip-Hop.
Seria injusto dizer que é uma obra “difícil” – muito pelo contrário, o estilo é dinâmico e a leitura torna-se compulsiva. Mas é um livro que exige um certo nível de curiosidade intelectual, um sentido de abertura perante o mundo em geral. Prova disto é que o primeiro capítulo debruça-se sobre os anos entre 1968 e 1977, uma época anterior sequer ao lançamento de “King Tim III (Personality Jock)” e “Rapper's Delight” (os primeiros discos de Rap e Hip-Hop publicados), quanto mais ao aparecimento dos Run-D.M.C., LL Cool J e as outras super-estrelas que se seguiram. Começando portanto muito antes de o Hip-Hop se tornar notório, o livro embarca numa quantidade alucinante de divagações, passando pelo planeamento urbano do Bronx, a história dos gangs latinos em Nova Iorque, o desenvolvimento da cultura deejay na Jamaica e as tentativas de politização dos guetos.
Isto tudo porque “Can't Stop Won't Stop” não é propriamente só um livro sobre a música. Essa está longe de ser esquecida, e as descrições feitas foram suficientes para me mandarem imediatamente de volta às minhas compilações Sugarhill e Tommy Boy para re-ouvir alguns dos velhos clássicos. Mas Chang escreve principalmente sobre o contexto em que o Hip-Hop se desenvolveu, e é por isso mesmo que as estórias aparentemente desconexas do primeiro capítulo acabam por ser tão essenciais – todas contribuem para explicar como uma cultura tão vibrante pôde nascer duma miséria tão profunda.
“Can't Stop Won't Stop” é sem dúvida o melhor livro que alguma vez li sobre o nascimento do Hip-Hop – nisso, passa a usufruir do lugar anteriormente ocupado pelo “Rap Attack” de David Toop. Há entrevistas com todos os maiores protagonistas da era (o próprio prefácio do livro é escrito por Kool Herc em pessoa), e todas as vertentes da jovem cultura são exploradas até a exaustão. Por vezes as narrativas tomam um cunho quase místico, como na parte sobre o break-dance, abandonado pela geração que o iniciou e mantido vivo por irmãos mais novos, que passaram a infância no quarto a treinar os movimentos. Crazy Legs, um puto de treze anos inspirado pelas maratonas de filmes de kung-fu e samurais às quais assistia no seu cinema da esquina, começou por andar de vizinhança em vizinhança, desafiando os campeões locais do break e, depois do duelo, convidando-os para juntarem-se à sua crew, qual personagem principal dum filme do Kurosawa. Outras vezes, surgem episódios caricatas: houve por exemplo uma altura em que o graffiti estava prestes a morrer em Nova Iorque, porque já todas as superfícies disponíveis se encontravam repletas de tags, e era impossível fazer algo novo sem destruir o trabalho de outrem (sujeitando-se assim a que o mesmo fosse feito consigo mesmo.) Mas calhou também ser logo essa a altura em que o governo, numa tentativa de erradicar o graffiti uma vez por todas da cidade, decidiu substituir os comboios activos por novos, limpinhos – fornecendo assim novas superfícies para os jovens artistas. Estava portanto salva a faceta talvez mais heterogénea da cultura Hip-Hop: iniciada por pessoal do gueto, hippies e putos entediados dos subúrbios, e namorada não só por alguns professores liberais da geração de '68, mas também pelas vanguardas artísticas nova-iorquinas.
As origens confusas e as mudanças constantes na demografia do Hip-Hop representam uma parte considerável do livro de Chang: são constantes os conflitos entre as diferentes sub-culturas (hippies, punks e b-boys), entre as classes e entre as raças. Em Nova Iorque, é realçada o enorme contributo latino (de facto, a influencia da música latina na música americana em geral é um dos cantos com menos cobertura jornalística até agora – o que é grave, porque, gostemos ou não, o reggaeton não se vai ir embora.) Também Los Angeles recebe uma biografia: os capítulos consagrados à cidade são dos mais trágicos do livro. Enquanto que em NYC, o intercâmbio cultural, a criatividade fulminante e o êxtase das block partys servia para transcender – mesmo que só por alguns momentos – a dura realidade do dia-a-dia, no inferno urbano de LA a música era apenas a banda-sonora para um cenário de crime, toxicodependência e violência policial. Pouco espanta que a música da Costa Oeste (Ice-T, N.W.A.) tenha chegado com uma visão infinitamente mais soturna e violenta do que a nova-iorquina. É relatado com infinita precisão o conflito entre a comunidade negra e asiática, atiçadas uma contra a outra apesar de serem ambas das etnias mais pobres da cidade. O pesadelo chega ao seu apogeu com os distúrbios de '92, e o célebre desabafo de Rodney King: “why can't we all just get along?” Chang relata também incidentes menos divulgados: poucos sabem que, devido aos distúrbios, houve policias que entraram em casas sem mandato e confiscaram quaisquer electrodomésticos à vista, com o pretexto que “certamente foram roubados”.
“Can't Stop Won't Stop” fornece inúmeras imagens: a saga dos Public Enemy, um grupo destemido a nível sónico e político que foi obrigado a carregar a consciência política de toda uma geração e, no fim, quebrou por não aguentar o peso (ChuckD é surpreendentemente honesto acerca disso nas citações incluídas); a história tragi-cómica da “The Source”, revista que começou como uma das criações mais dinâmicas da geração Hip-Hop e, devido a um certo Sr.Benzino, hoje tem toda a credibilidade jornalística do “24 Horas”; os fatos de camuflagem e as teorias de conspiração que dominaram o Hip-Hop durante a chegada do milénio; e a semi-desastrosa viagem à África do Sul feita por alguns dos nomes mais sonantes do Hip-Hop “consciente”, que Chang nota ser hoje um sub-género tão controlado pelo marketing como qualquer outro (independentemente dos artistas o desejarem ou não.)
Se há alguma falha neste livro, é que o autor tenta conter demasiado num espaço pequeno demais. Metade das (vejam lá) mais de quinhentas páginas do livro tratam apenas do nascimento e da pré-história da cultura; claro que não sobra o suficiente para falar exaustivamente do resto. O Hip-Hop já é quase trintão – urge escrever não só livros sobre o estilo em geral, mas também obras mais específicas. Urge haver biografias (mas com credibilidade!), urge haver histórias dos selos (Def Jam! Tommy Boy! Profile!), urge haver livros sobre os seus sub-géneros (da Daisy Age ao Crunk ao G-Funk!)
Enquanto não chegam, recomenda-se a leitura de “Can't Stop Won't Stop”.
Daniel Reifferscheid
Sexta-feira, 20 de Outubro de 2006  Entrevista a Sir Scratch
Esta entrevista do Sir Scratch foi exclusivamente feita por membros do fórum da Horizontal. O Scratch optou por não responder a algumas perguntas por serem semelhantes a outras que já lhe foram feitas ou por serem perguntas que ele considerou "muito usuais".
Porquê a escolha da Footmovin para ser tua editora?
Porquê? Foi simplesmente a escolha mais obvia a meu ver tendo em conta que das opções e propostas que tinha na mesa naquela altura o bomberjack era alguém com quem já tinha contacto e onde senti que me sentiria mais à vontade e livre para desenvolver o meu trabalho.
Achas que a Footmovin tem monopolizado o rap nacional?
Não acho que a foot monopolize nada...somos apenas mais uma editora de hiphop nacional e felizmente damo-nos muito bem e o bomberjack tem tido sucesso com as suas apostas.
Quão importante foi para ti ir para Dublin estudar?
Influencia no que diz respeito à forma de pensar e modo de agir. A variedade e diferença traz-nos sempre perspectivas novas em relação ao dia a dia, reflicto e penso a cada momento que me deparo com situações não vividas antes. Acho que essa mistura toda influencia nem que seja as vezes pouco, a minha forma de viver e dessa forma indirectamente a minha música.
Como é que te sentes ao teres passado de um rapper conhecido por poucos, a um rapper quase mainstream? Como tens lidado com isso?
Em primeiro lugar eu não me considero um rapper mainstream. Não que esteja a dizer que isso seja mau ou bom, mas simplesmente pelo facto de não o ser...pelo menos até agora...lol. Bem mas se bem entendi, referes-te mais à forma como lido com o facto de agora ter uma projecção maior e passar de desconhecido para "reconhecido"... Eu considero esse resultado como positivo porque a musica que faço é feita com um Intuito, e esse intuito, é o de chegar à mente e aos ouvidos das pessoas. É de transmitir algo acima de tudo...tendo isso em conta, obviamente e' bom sinal porque significa que há mais pessoas que estão a par do meu trabalho. Não confundo fama com sucesso.
Como é que está a tua situação com o Lancelot?
Essa pergunta é um pouco cómica mano, desculpa lá se achei isso. hehehe... É assim, se te referes e calculo que sim ao chamado "beef" é pela milésima vez que digo que o que se passou entre mim e o Lancelot foi nada mais nada mais que uma batalha verbal, e é de sublinhar que foi algo passado em 2003. Sei que é bom recordar mas quando as recordações são boas...se as pessoas recordam isso como algo negativo o melhor é esquecer. De maneira alguma faço musica com esse intuito... Agora respondendo mais directamente...o que acontecera...nada…calculo, até porque apesar de eu saber quem é o Lancelot e vice-versa, nós não temos uma relação de amizade mas simplesmente o conhecimento do trabalho de cada um. Mesmo que a nossa battle nunca tivesse existido a relação seria a mesma...da mesma maneira que vês um colega da escola mas não da tua turma é da mesma forma que o veria ao passar na rua...não existe nada para além disso.
Em sons como o "Ilusão" ou "Posições Primárias" tenho a impressão que divagas, ao ponto de às vezes parecer que não falas de nada. Porque optaste por esse tipo de rap?
Eu vou tentar responder a esta pergunta com o maior respeito possível para não soar tão ignorante como a tua pergunta. Tens a impressão? Não sei se é pergunta ou afirmação da tua parte. Respondendo : Se no tema Ilusão...não estou a falar de ilusões e no posições primárias não estou a falar de obstáculos e tentativas falhadas na nossa vida, como me parece de uma certa forma óbvio...então acho que tens razão. Não estou a falar de nada...e eu a pensar que eram bons temas e ricos e conteúdos...tenho que me esmerar um pouco mais estou a ver, e fazer temas mais simples e básicos para as pessoas que curtem coisas "do género" poderem comprar também um exemplar e dizer que afinal não sou tão vago e pobre em conteúdo.
Que achas da Cidade FM?
Sinceramente mano...não posso comentar porque não oiço hehehe.
Que achas desta exposição do rap tuga na MTV e noutros canais?
É assim, eu não sei se cantas....mas se não, então acho que tu é que me devias responder a isso. O meu ponto de vista é o seguinte: E digo isto pelo simples facto de me pôr também no lugar de ouvinte e de consumidor e pensar para mim mesmo...nós não estamos satisfeitos com a "imagem" que a televisão nos dá do rap e do hiphop em si duma forma geral, parece-nos deturpada, certo? Então para quê criticar somente e não fazer nada? Se há música boa a ser feita em patamares independentes e se existe uma oportunidade de a expor da mesma forma que as outras porque não promover esse tipo de música? Acho que ainda existe gente com uma mente um pouco fechada em relação a isso e tem aquela cena de dizer "haa underground" quando a expressão não tem nada a ver com o estar escondido e o ser-se desconhecido propriamente. Mas isso é uma pergunta que merece um debate...e também depende varias perspectivas..a minha é essa.
O que tens a dizer para aqueles que dizem que o teu albúm está pobre em termos liricos que antes tinhas calibre para mais ?
Digo isto não por concordar mas porque se tratam de opiniões e opiniões fazem parte do pensar de cada um. Agora tudo depende de como as coisas são postas, não sei se "há gente que diz" se és tu que estás a dizer...mas depende de qual é a ideia dessas tais pessoas do que é ser-se RICO em termos líricos...mas calculo que quem fez esse tipo de comentários sejam pessoas que...ou não cantam...ou cantam mal...desculpa a frontalidade.
Quais as tuas maiores influências? (Tugas e Estrangeiras)
Bem....em termos de influencias, não tenho assim um artista que acho que me apegue directamente...porque também oiço música muito variada e por vezes até nem tanto rap...mas ultimamente tenho ouvido as cenas de Nicolay,Madlib,Georgia Anne Muldrow,Lupe Fiasco,Laura Izibor,Common Sense,Amel Larrieux....e por aí...lista vasta lolol muito alimento que é consumido...depois as vitaminas sao aproveitadas, para poder fortalecer o corpo...acho que musicalmente gosto de ter a mente mais aberta. Agora assim de rap nacional...tenho ouvido pouco...posso dizer que estou a sentir as ultimas cenas do ikonoklasta,Leonardo Wawuti...Valete,Samuel e mais produtores...tenho estado mais ligado às produções em termos nacionais...ando a sentir as dicas do Darksunn,Makp,Quatara,Conductor,Scotch... mas não são directamente influências....só que sendo música que gosto e oico regularmente é natural que uma coisa ou outra seja absorvida de forma a moldar novas ideias.
One love.
Domingo, 24 de Setembro de 2006
 Revelação e Religião
Revelação foi o primeiro avanço do meu álbum “Serviço Público” que virá já dia 28 de Setembro. Foi também o mais elogiado de todos os meus sons . Daqui agradeço a todos os que me felicitaram através de mails, sms's, MP's no fórum e no myspace e também aqueles que me felicitaram pessoalmente.
Sou agnóstico, não porque me perco em dúvidas entre o teísmo e o ateísmo, mas essencialmente porque não acredito nas “provas” e “testemunhos” que asseguram a existência de Deus e muito menos na capacidade humana para afirmar uma entidade superior. Como dizem sempre os cientistas: “tudo o que transcende a experiência é inacessível à mente humana”.
No som “Revelação” como perceberam, a intenção nem era travar a luta da negação de Deus em vez da certeza do Diabo. A intenção original era reprovar a Religião (o cristianismo principalmente), denunciado as incongruências e contradições que a envolvem, para finalizar dizendo que se olharmos para a ordenação da Natureza e do Mundo até tem muito mais lógica que o Deus que eles preconizam seja um Ser maligno e impiedoso.
Portanto não é Deus que eu repugno, mas sim a Religião.
A Religião no fundo é uma instituição arrogante, que pretende estabelecer uma Moral para as sociedades determinando assim o comportamento e o estilo de vida das pessoas como se fosse um regime autocrata da Idade Média. E ainda vai conseguindo amedrontar as pessoas com as fantasiadas “punições do Senhor”. A religião chega ao ponto de muitas vezes rejeitar dados científicos provados e comprovados por estudiosos, para fazer valer a sua “verdade” difundida por “meia dúzia” de alucinados. Mas que raio de verdade é essa??
Se nós temos a sorte de ter um Criador perfeito, benévolo e todo-poderoso então porque é que não nascemos logo num paraíso para vivermos em paz, amor e harmonia. Porque é que temos que passar por este mundo desequilibrado e atroz??? É nesta frase proferida todos os dias por milhões de pessoas que se centra o meu som e o debate sobre a Religião. Em tempos muitas religiões cristãs apressavam-se a responder a esta pergunta contando a história de Adão e Eva (primeiros seres humanos criados por Deus, segundo a história), hoje muitas dessas religiões já aceitam como prova para o aparecimento dos primeiros seres humanos a Teoria da Evolução de Darwin, e já reconhecem a mitificação da história de Adão e Eva.
Então se a história de Adão e Eva é um mito, cá vai outra vez a pergunta: “porque é que não nascemos no paraíso?”. Se forem perguntar isto a um padre cristão verão o tempo surreal que ele demora a responder esta pergunta, enrolando e misturando com passagens bíblicas fora do contexto, para no essencial vos dizer que Deus nos criou propositadamente imperfeitos e vulneráveis num mundo desregrado para ver se nós somos capazes de resistir aos males e tentações negativas. Ou seja, o cristianismo quase que diz que Deus criou-nos para nos testar. E se ele é omnisciente, já sabe o resultado do teste, então é um brincalhão.
A verdade é que a religião nunca poderá responder com lógica e coerência a essa pergunta, porque uma resposta realista poderia arruinar a mais valia de todo o Marketing religioso. A maior parte das religiões prometem o paraíso, e é por isso que têm tantos adeptos. No dia em que a Igreja disser: “ Epá, afinal não há vida depois da morte, não há paraíso nenhum, mas encarem sempre a vossa pobreza e sofrimento com humildade, é o destino, Deus quis assim” garanto-vos que mais de metade dos crentes vai mandar a religião pó caralho. Diriam: “ Afinal de que vale a pena andar aqui a sofrer se não há paraíso nenhum.” A promessa do paraíso é condição fundamental para a existência de muitas religiões. E até como disse José Saramago no seu livro “Intermitências da morte” bastava que os homens tivessem vida eterna para que muitas religiões fossem ridicularizadas.
Resumindo, a religião ainda subiste com base na exploração da ignorância das pessoas, fazendo-as alienar as suas vidas em prol desse futuro distante (o tal paraíso depois da morte, onde tudo é harmonioso). Por todos os continentes, existem milhões de pessoas que vivem num nível trágico de miséria e infelicidade mas que aceitam a condição que têm e projectam as suas aspirações para o “reino dos céus”. Não se importam de rastejar em vida, porque acreditam que serão afortunadas no paraíso. A religião não só fomenta esta alienação colectiva, como também tira o espírito de revolta às pessoas, e até a necessidade que todos temos de lutar por justiça, pelos nossos direitos e por uma condição melhor. A religião ainda é o ópio do povo.
Nota:: Em todo o texto o termo Religião visa como é óbvio apenas as religiões teístas.
Valete
Domingo, 24 de Setembro de 2006

Futebol...em mais um "kansas city shuffle"
Abri hoje o jornal "Jogo", e vinha lá uma noticia que dava conta duma acção
do Benfica, que através de Tinoco Faria, entregou à Procuradoria Geral da
República um dossier com inúmeros relatos de casos em que o Benfica se
sentiu prejudicado ao longo dos últimos anos.
Casos esses, segundo Luís Filipe Vieira, matéria crime. Nomeações de
árbitros, casos dentro dos próprios jogos, com inúmeras referências aos
arguidos do Apito Dourado.
Tudo isto me parece lógico. Uma equipa que se sente prejudicada deve
defender os seus direitos e recorrer e reclamar a quem tenha competência
para analisar e julgar os casos. É lógico, e é exigível que o façam para
defender a sua instituição.
Ora isto vinha na parte de cima da última página do "Jogo" de 8 de Setembro.
Continuei a ler o mesmo jornal, e a mesma página, até que no fim da página
aparece a seguinte noticia "Luís Filipe Vieira terá pedido árbitro a
Valentim Loureiro". Pensei, "tá tudo bêbedo ou quê?!"
E a noticia diz o seguinte...
"Luís Filipe Vieira apanhado nas escutas telefónicas incluídas no processo
Apito Dourado negociando com Valentim Loureiro a escolha do árbitro para a
meia-final da Taça de Portugal de 2003-2004 faz manchete do jornal
"Público".
Segundo essa noticia, o presidente do Benfica terá recusado 4 árbitros
oferecidos por Valentim Loureiro, acabando por aceitar o nome de João
Ferreira.
Mas há aqui uma coisa que me confunde...se os tribunais têm estas escutas em
seu poder, como é que Luís Filipe Vieira não é arguido no caso Apito
Dourado?!?! Será o Benfica uma instituição assim tão poderosa que consegue
estar acima dos próprios tribunais? Será que os investigadores, os juízes,
etc, fazem todos parte dos 6 milhões de benfiquistas? Será que o Benfica tem
passes de jogadores penhorados a cimenteiras porque gasta o dinheiro todo a
pagar "luvas"?
De qualquer forma, esta página do jornal deu-me um ganda gozo.
Toda a gente sabe que Luís Filipe Vieira é tão mafioso quanto Pinto da Costa
e Valentim Loureiro. Ou pelo menos, 4 milhões de portugueses têm a certeza,
e os outros 6 milhões desconfiam mas não querem acreditar.
Há inúmeras frases que se podem aplicar a esta situação tipo "Quem tem
telhados de vidro...", "quem nunca pecou que atire a primeira pedra...",
etc, frases bonitas que ilustram bem o ridículo em que o Benfica caiu neste
momento.
Mas a situação que me vem à cabeça vi-a a num filme há pouco tempo. O filme
chama-se "Lucky number Slevin", com Bruce Willis, Josh Harnett, Sir Ben
Kingsley, Morgan Freeman (vale a pena ver), filme esse em que se fala num
"Kansas city shuffle". O Kansas city shuffle é uma situação em que fazes
todo o mundo olhar para a direita, e segues pela esquerda. No filme, o KC
shuffle era utilizado para matar, mas nesta situação é só para direccionar
as atenções para outros pecadores.
Mas a jogada saiu furada, e o bluff de anjinho de Luís Filipe Vieira caíu
por terra.
É óbvio que agora quero ver o que vão fazer as autoridades depois de se
saber esta história toda, mas o mais normal é que acabe tudo como está.
Há quem diga que "mudam as moscas mas a merda é a mesma!", mas neste país as
moscas também são sempre as mesmas... Dyze
Domingo, 17 de Setembro de 2006

IDENTIDADE
Poucos de vocês me conhecem, e acreditem ou não, isso ajuda bastante o meu texto. Simplesmente porque se estiver bom, toda a gente irá bater palmas. Se estiver mau, amanhã de manhã ninguém se lembrará de mim tal como não se lembraram hoje ao acordar. Mas não me interpretem mal, não escrevo por reconhecimento, ou para dizerem que o Heartcore tem grande filosofia de vida. Nem escrevo por pedido de ninguém. Escrevo porque sei que tenho que escrever. Para vocês, mas antes de tudo, para mim.
Ora bem, depois desta introdução, vamos ao que interessa.
De Wack para Phat !
Sinto-me hoje perdido. Larguei as minhas primeiras rimas há alguns anos, e hoje riu-me do que escrevi na altura. Riu-me das ideias que na altura tinha, dos instrumentais que gostava, dos flows que procurava. Não comecei por ser um rapper próprio. Fazia o que pensava que o público queria ouvir. Sem talento, claro.
Tive a sorte de ser acompanhado por 2 grandes manos (X-Tense & DNG) mas, ironia das ironias, talvez isso tenha sido a minha maior sorte e o meu maior azar. Foi com eles que aprendi a usar o talento, a criá-lo e a explorá-lo. Mas aprendi tão intensamente que não mudei o mais importante. A identidade. Continuava a ser um rapper ‘não próprio', mas desta vez, um ‘não próprio' com talento.
Tornei-me uma espécie de X-DNG na altura, uma compilação dos dois em que obviamente, havia talento (o deles) reproduzido por alguém, neste caso eu. Aos poucos, tentava escrever como o Tenso e cantar como o André, tentando ser reconhecido por aqueles que os amavam a eles também. No fundo, só queria reconhecimento e a tal fama. Claro….era comercial ! LOL
Obviamente que vocês nada têm a ver com a minha vida né? Nem eu tinha o direito de pensar que o meu ponto de vista vos interessava. Mas também é claro que, como qualquer pessoa tenho o DIREITO a opinião, e como amante do rap tenho o DEVER de dar o testemunho de algo que muita gente faz e não devia. Deixem de ser Samuéis com jogos de palavras e revoluções líricas impressionantes. Deixem de ser Valetes com liricismos acutilantes e incisivos. Deixem de ser Gutto's para poderem passar na MTV. Não que eles sejam maus naquilo que fazem (que não são) mas nem eles merecem ter a ‘cena' deles copiada, nem vocês merecem passar a vida a ser uma cópia da ‘cena' deles.
Acima de tudo, sejam vocês mesmos !!
Hoje tenho um problema, que é o de ter de viver com o fantasma do X-DNG. Quando escrevo, além de combater a dificuldade de fazer uma lírica em condições tenho que combater também o complexo de não querer ser mais igual a eles. E acreditem, que o 1º problema já é complicado, então 2 juntos….é obra !
Moral da história: Cresçam como rappers, façam letras lixentas (que também é preciso), usem flows horríveis de forma a poderem notar a evolução. Imitar uma pessoa que já é boa por si mesmo é fácil, porque está tudo criado. O difícil é criar-mos por nós mesmos. CRIARMO-NOS!! Acreditem que não é nada fofinho serem vistos como uma fotocópia, ou apenas mais um. Para isso, façam playback dos vossos artistas favoritos no banho. Trazerem isso para a rua…é degradante. E contra mim falo….Hoje sinto-me capaz de trazer rap em condições, mas sinto falta de ter tido um crescimento normal. Hoje aperto a mão a muita gente VIP do rap tuga (modéstia à parte :p) , mas sinto falta dos tempos em que o simples facto de ver um, me empolgava. Na altura eram ídolos, agora são exemplos. Eu na altura era um puto. Agora sou Heartcore. E é com este estatuto de ser ninguém que digo com toda a moral: Não façam o rap que os outros querem ouvir. Não façam o rap que vocês gostariam de ver os outros fazer. Façam o rap que vos faz sentir bem. Se o rap que vos faz sentir bem é o mesmo rap que outro faz, que raio de rapper és tu?
Digiram…
Halla
Heartcore, AmuseIcon Rekordz
Domingo, 17 de Setembro de 2006 
O Grande Boi George, ou mais um caso de BSE
Esta não é uma história como tantas outras do “Era uma vez”. Nesta história não há bruxas que fazem a vida difícil ao personagem, e não há fadas madrinhas porque foram todas enviadas para Guantanamo. Esta história relata-nos a vida de um pequeno novilho em busca do seu lugar no grande Curral da vida...
Tudo começou no dia em que o Pequeno Novilho George, o filho do Grande Boi George, entrou no novo curral, onde o pai já tinha passado uns anos na engorda. Bem cuidado e tratado à base das melhores rações obtidas nas margens do Mississipi e transformadas e embaladas numa qualquer fonte de poluição em New Jersey, George rapidamente desenvolveu o stress próprio de quem tem que lutar para ser o novo Grande Boi, e apesar de ser o novilho mais burro do Curral, acabou por conseguir o estatuto, talvez graças ao facto de ser de uma raça altamente apurada e prestigiada, a raça Bush.
De facto, esta é uma raça bastante rara e cara. Todos os anos o povo americano faz doações na ordem dos biliões de dólares para sustentar a sua fome. Apenas há algumas entidades isentas deste imposto, nomeadamente empresas de combustível e outras ligadas a grandes aglomerações de capital, pois são parceiras do Curral há bastantes anos, já desde os tempos do Grande Boi George, ora dando transporte, ora dando rações, ou mesmo dinheiro para ser utilizado na compra de outros currais. A par do povo americano, estes filantropos enchem os cofres do Curral, sem qualquer tipo de contrapartidas. Tudo o que seja lobbies, casos de corrupção abafados, ou interesses na presença bovina em países estrangeiros é pura ficção ao nível de uns quaisquer X Files. Nada disto acontece na realidade, pois todos eles são meros filantropos, de boas casas, e que se realizam apenas com a alegria do Pequeno Novilho George. A única situação mais complicada prende-se com os capitais Judaico-Suino, pois começaram por estar isentos, mas depois por uma questão de imagem foram obrigados a doar uma parte dos rendimentos. No entanto, rapidamente lembraram o Pequeno Novilho George de que eles tinham sido os responsáveis pela subida do Grande Boi George ao poder no Curral, de alguma forma deixando implícito que se fossem obrigados a pagar, rapidamente encontrariam outra Vaca Louca para o substituir. O Pequeno Novilho acedeu às intenções Judaico-Suinas, proferindo alguns palavrões e abanando a cabeça, por ter sido comido num tipo de chantagem que ele se considerava especialista. Mas pelo menos assim mantinha a sua posição e isso deixava-o confiante.
No entanto, e apesar de tudo parecer correr bem na sua nova casa, o Pequeno Novilho George não estava feliz. Faltavam-lhe as amizades, pois todas as raças dentro do Curral eram demasiado inteligentes para querer brincar às Vacas Loucas com ele. Mas como sempre foi ensinado pelo seu pai, o Grande Boi George, é um direito, e mesmo um dever, atropelar tudo e todos para conquistar os seus objectivos. Então, e numa jogada perfeita, o Pequeno Novilho George decidiu substituir algumas vacas dentro do Curral. Saíram sobretudo aquelas que consideravam que havia outros Currais com iguais direitos e capacidades. Essa visão democrática e romântica irritava o Pequeno George, que rapidamente as substituiu por Vacas apuradas a partir da sua própria raça. Chamou de volta o Boi Cheney, e contratou o Boi Rumsfeld e a Vaca Condoleeza para lhe dar apoio dentro do Curral.
Podemos ser levados a pensar que a vida dentro do Curral não oferece grande perigo, mas o Pequeno George sabia que o poder era uma coisa efémera e que se não tratasse de o aumentar e consolidar, algum novo Boi podia tomar o seu lugar, sobretudo tendo em conta que o Boi Kerry tinha sido o escolhido para o seu lugar e que apenas graças a um truque de “magia” haviam sido alteradas as candidaturas a “Vaca Louca do Futuro Próximo”.
Já com os seus novos amigos, o Pequeno Novilho George conseguiu algo que nem o próprio pai tinha conseguido, o ódio do mundo inteiro. O Grande Boi George só conseguira o ódio do Médio-Oriente, mas o Pequeno George, talvez pela sua maior dose de células infectadas com BSE, conseguiu triplicar o mau trabalho do Pai.
Invadiu outros Currais, aumentou o preço das rações, limitou o uso da água só aos Bois e Vacas que o apoiavam, cobrando ainda muitas toneladas de ração em troca de protecção. Distribuiu armas pelo seu novo exército para uma dominação mais eficiente, e vendeu rações estragadas aos Currais que ele considerava impuros. O Pequeno George não se considerava um fascista, mas apenas um mero Boi Capitalista. Todas estas acções estavam dentro das Leis que outros Bois haviam criado, e as que não estavam, bem, não se preocupava muito com isso, pois ele já era o novo Grande Boi.
Dizem que todos os anos pelo dia de Acção de Graças a raça Bush se reúne em volta dum belo fardo de palha cantando, tremendo e abanando a cabeça em sinal de vitória.
Texto retirado de “Histórias de embalar demónios” Volume I, 2006
DYZE
Quinta-feira, 30 de Agosto de 2006
 Salvaterra apresenta as cronicas de verão: O Divórcio entre Amor e Sexo Já repararam que as madres se carregam com uma arrogância subtil, sustentam um ar de superioridade mesmo perante aquilo que não compreendem. Como se fossem donas da verdade, como se a fé e o conhecimento meticuloso da Bíblia lhes passasse um certificado de sabedoria infinita. Isso faz-me uma impressão tremenda, a religião e a nova moralidade, a força das regras instituídas e como as damas que um gajo conhece raramente questionam isso . Estava ensonado a ler a biografia do Jean Paul Sartre, até o paragrafo da relação dele com a mulher me atirar com um balde de agua fria. E passo a citar : " em 1929 , conhece Simone de Beauvoir que se tornaria sua companheira e colaboradora até o fim de sua vida. Sartre e Beauvoir não formavam um casal comum de acordo com padrões da época. Ambos possuíam amantes, e partilhavam confidências sobre suas relações com outros parceiros. Este modo de vida violava os valores da tradicional sociedade francesa, que se escandalizou com essa relação" Lindo. A capacidade de discernir entre o sexo e o amor. O reconhecimento de que o sexo é uma necessidade fisiológica, e que a cumplicidade transcende o coito. Tive uma amiga norueguesa que teve cá em Portugal a fazer erasmus, as conversas sobre barreiras e diferenças culturais estendiam-se como uma linha no horizonte. Achei engraçado ao facto de, na Noruega haver muito pouca religião, a maioria das pessoas não acreditar em Deus, e regerem-se por princípios filosóficos, pirâmide das necessidades de maslow e coisas assim. Ali, o amor também põe a razão em neblina, também é intenso e inexplicável, só que quando, por exemplo, um homem enamorado pela sua companheira se depara com incompatibilidades e bloqueios, derivados das vicissitudes da rotina ou whatever, manda-lhe ir foder com outro, para que à noitinha possam ir tranquilos ao cinema ou ao bowling. Eu por outro lado, estou preso a um código de conduta diferente, faço parte de um meio onde temos de reprimir e enviesar os nossos impulsos para sermos politicamente correctos. Porque a moral, as regras, os standards dos homens "sérios" assim o dizem. onde as conversas precisam de passar por joguinhos como se, de um tabuleiro de monopólio se tratasse para usufruirmos do corpo alheio. Há um código de conduta subliminal, de regras não escritas em que a hipocrisia é o ingrediente base do jogo. Onde quando o sentimento se encontra presente e a força da carne clama por sexo, as damas refreiam-se com desculpas estereotipadas como: "é muito cedo para isso", "isso não é hora para ir até a tua casa", "o que é q tu vais pensar de mim? vais-me rotular de vagabunda", "isto é uma regra de ouro minha, eu não me aqueço com ninguém na primeira noite". No fundo nós curtimos aquelas que fazem o que querem, só para lhes chamarmos de putas depois. o preço da liberdade é caro. Mas o pior são mesmo aquelas que têm namorado, curtem contigo, do género beijinhos, atiçam-te e brincam, deixam pegar nos mambos e argumentos fortes, provocam saldo negativo no cartão do telemóvel, e depois não vão à ultima instância porque, gostam mesmo do namorado e estão com consciência pesada. Ou as rainhas do cinismo que usam o copo como subterfúgio, bebem e usam o álcool, como desculpa para apanhar, depois dizem que foi sem querer. É triste. Não o copo que isso é bom, um afrodisíaco, o copo permite a alma abandonar o corpo ou como o diz o Hemingway: "queimar a gordura da alma", fazer as preliminares da verdade e desenroscar a timidez. O que é triste é dizer que o copo é o responsável pelos nossos impulsos e palpitações. Sexo é uma coisa normal. Repito sexo é uma coisa normal e devia ser excomungado do campo lexical do amor. E eu? o herói destas palavras ousadas que chocam como Caps Lock numa janela de chat, será que estou pronto para o próximo nível? Será que tenho a coragem de mandar a minha outra metade ir-se entreter com outra coisa, para alem de um vibrador, enquanto ponho o jantar ao lume e vejo o resumo da bola? Virar swinger? Confesso que não, mas também sei que é um bloqueio derivado da sociedade em que estou, onde as regras se sobrepõem aos teus feitos mais nobres, onde se hipoteticamente fores um génio da física, ou um grande malabarista das palavras e se ao comeres numa gala peixe com os talheres errados és um matumbo, um buçal ou génio menor. Porque segundo as regras o status é mais importante que o dom. Se fores um cantor medíocre com status és melhor que um cantor genial cujas vendas batem na rocha, porque as regras assim o dizem. Contudo, por outro lado os fãs do cantor que tem status pensam que fazem amor mas só fazem sexo, e os poucos fãs do génio, sabem que fazem amor. Por isso é fundamental saber quais as regras importantes e quais as dispensáveis, acho que a maioria são dispensáveis, 80% são um monte de esterco que servem para nos controlar e homogeneizar como gado. Há uma dama que vejo como uma espécie de outra metade, mas que não namora comigo, namora com um outro mano, um filisteu. disse-lhe que quando estou com ela, não a beijar na boca é como fumar sem inalar. Ela limita-se a rir da triste seriedade das minhas palavras. Sei que ela quer, o apetite transborda dos olhos dela, mas tem de ser fiel ao namorado. E se ela me beijasse? Será que num futuro remoto em que namorasse com ela, iria confiar nela? Essa estória do compromisso e das barreiras da cumplicidade têm de ser revistas com a urgência de uma ambulância com a sirene em ressonância. Acho bué marado como a monogamia obriga as relações a serem constantemente reinventadas, onde a fuga à rotina, é uma rotina. Nas relações dos dias que correm, a instabilidade é um ingrediente fundamental, senão o bolo do amor cria bolor. Tem de haver agitação, e isso é uma merda, se tirássemos o sexo do caminho, toda gente podia dormir com quem quisesse e da mesma forma, era para o lado que as nossas relações dormiam melhor. Eu gostava de ser verdadeiramente livre como o Jean Paul Sartre e a dama dele. De não ser um escravo, e encontrar a minha carta de alforria num amor sem sentido de posse, onde o sexo fosse exclusivamente o que é. Normal. Uma necessidade primitiva do ser humano, nada mais. E que o amor, a cumplicidade e o compromisso uma equação diferente. Sinto à força toda, que o futuro, o próximo passo da evolução humana, passa pelo divórcio entre o amor e o sexo. Até à próxima, Salvaterra,
o homem do povo Sábado, 26 de Agosto de 2006  Motivos & Direcções Há tempos li um texto bastante curioso com o tema "Composição em tempo real".
Nesse texto houve uma frase que me marcou bastante, e o que esta dizia, cito aqui muito resumidamente: "o que importa não é o motivo da nossa presença, mas a direcção da nossa presença."
Esta é uma frase com milhões de aplicações práticas, mas sendo eu um grande amante desta cultura, a primeira coisa que me veio à cabeça foi a forma como estamos a evoluir.
De há 10 anos para cá houve realmente um grande crescimento. A nossa "velha escola" soube adaptar-se aos novos tempos, mantendo aquela atitude de outrora. Pelo meio perderam-se alguns, e ganhámos outros, e como é natural em tudo, estes últimos vêm trazer a renovação.
Há 10 anos atrás éramos muito poucos, e a nossa preocupação era expandir o movimento. Agora que já temos uma margem algo confortável dentro do panorama musical e cultural, graças às novas gerações que cresceram com a nossa música, quero lançar esta pergunta: Será que estamos a crescer na direcção certa?
Aquilo que observo hoje em dia, é que bastam 10 minutos de MTV e uma muda de streetwear para qualquer um se afirmar amante da cultura, mas não é isto que me preocupa.
Observo também que esta gente representa uma fatia considerável dos simpatizantes do movimento, mas não do movimento em si, só que também não é isto que me preocupa.
Observo que as atitudes destes jovens não são compatíveis com o que fez o Hip-Hop tuga chegar a este nível, e É ISTO QUE ME PREOCUPA!
Nunca ninguém primou por crescer à pressa, mas à primeira musica que ouvem, acham que já têm o que é necessário para se lançarem. Admiro muito a "gana" destes jovens, mas se muitos dos nossos representantes levaram 10 anos até ao patamar actual como é que alguém pensa começar a rimar/scratchar/dançar/graffittar/produzir num ano e nesse mesmo ano lançar-se ao público?
Bem, falo de experiência própria. E digo sem qualquer vergonha que no meu primeiro ano me lancei no vazio e caí de cabeça. Aprendi com o erro, mas será que os outros aprendem?
Nem todos, senão nada estava assim.
Antigamente via-se isto acontecer de vez em quando, agora vê-se quase todos os dias!
Parecemos uma grande empresa que tenta lucrar a todo o custo, e que quer tanto crescer que se esquece dos seus objectivos.
Mas é isto que está a acontecer ao hip-hop. Queremos crescer, ser muitos, mas para quê? Há quem se preocupe com o porquê de estar no movimento, mas isso é questão menos elevante.
Supostamente quem está a fazer algo, já deveria saber porquê. E mesmo dentro do grupo dos que sabem a razão de o fazerem, nem todos sabem o que querem fazer!
O importante é saber PARA QUE É QUE nos intitulamos como MC/DJ/B-Boy/Writer/Produtor/Whatever, se os nossos objectivos mudam mais facilmente que as nossas motivações. A grande questão é esta: Quais são os nossos objectivos?
Queremos simplesmente crescer para sermos muitos e desorganizados, e cair no caos do exemplo americano, ou queremos ter um crescimento que mesmo não sendo planeado, seja cuidado, prudente, organizado, e sobretudo, DIRECCIONADO? Sugiro que cada um de nós dedique algum tempo a esta matéria. Tanto a imagem, como a integridade do movimento estão a ficar comprometidas, e pior que fiascos, são sucessos vazios... Acid p Sexta-feira, 14 de Julho de 2006  Rap e o Futebol Enquanto assistia a alguns jogos do Mundial de Futebol na Alemanha, ia fazendo algumas reflexões sobre a similitude entre o nosso jogo das rimas e o jogo da bola. Bem à maneira de um grande mc, um grande jogador de futebol também se faz à base de muitas horas de treino, muitas horas de aperfeiçoamento dos skills, alguma capacidade inata e estofo para suportar a pressão e a expectativa. Para além disto fui descobrindo muitas outras equivalências entre o Rap e o Futebol até chegar a um estado de quase plena correspondência. A Ânsia – Muitos rappers com 1/ 2 anos de rima, planeiam já lançar álbuns, às vezes até só com meia dúzia de concertos dados, e sem sequer nunca terem entrado num estúdio. Isto é o mesmo que um jogador dos iniciados, reivindicar a sua presença no plantel de seniores só porque já tem força para cruzar uma bola. A Inteligência – A Inteligência dá-nos mais opções, torna-nos mais originais, mais criativos, mais estrategas, mais ponderados, menos previsíveis. Muitas vezes vemos rappers com grande flow, excelente voz, mas que por escassez de inteligência não conseguem ter conteúdo nas suas letras, nem capacidade para construir boas músicas. Quando penso nisto lembro-me de Cristiano Ronaldo. Já vejo futebol há muito tempo e foram poucos os jogadores que vi a reunir as condições físicas e técnicas de Cristiano. É um jogador com mais de 1m e 80, robusto, velocíssimo, resistente, com extraordinária impulsão, muito forte no jogo aéreo, excelente a rematar com os dois pés, notável mudança de velocidade, óptima capacidade de drible mas... variadíssimas vezes com um futebol ilógico. É péssimo a gerir ritmos de jogo, não raras vezes resolve começar a sprintar do meio campo sem esperar pelo o acompanhamento da equipa, desgasta-se demais para a produtividade que tem, e é muitas vezes mais exibicionista do que eficaz. Será melhor jogador quando for mais inteligente. Os Estilistas e os Liricistas – No rap, os estilistas são aqueles que têm mais preocupação com o flow, com a envolvência musical, com a estética e com as técnicas de rima. Os liricistas são aqueles que se interessam mais pelo impacto da mensagem, pela qualidade da escrita, pela poesia e pelos jogos verbais (metáforas, trocadilhos, duplos sentidos etc.). Talvez no futebol os estilistas sejam os malabaristas da bola como Denilsson, Okocha ou Ronaldinho Gaúcho, os liricistas são talvez os jogadores mais pragmáticos e objectivos como Lampard, Jardel ( o antigo eheh) ou Nedved. São dois biótipos bem diferentes. O expoente máximo é a junção destas duas espécies num só homem. São os Liricistas-estilistas como Zidane e Maradona. A Imprevisibilidade – Numa entrevista de Henry, ele dizia que no início da sua carreira era conhecido e aclamado pelas suas velozes arrancadas que fazia nos contra ataques, ou em diagonais dos extremos do campo até à baliza adversária. Preocupou-se em aprimorar essa sua característica, mas mais ainda, preocupou-se em tornar-se forte noutras áreas do jogo como na segurança do passe, na finalização e na cobrança dos livres. Henry disse que há medida que os anos foram passando, foi fazendo menos dessas arrancadas que o público tanto gostava, mas foi fazendo mais golos e mais assistências. Por ter agora várias armas, tornou-se num jogador ainda mais imprevisível e letal. No rap acontece com muita frequência o caso de mc's que são fortes numa determinada área - por exemplo em battle ou storytelling - e que são “pressionados” pelos fãs a fazer músicas sempre nesse registo, acabam por se tornar repetitivos e previsíveis. Estes são os mc's que duram menos tempo. Versatilidade – Também há o caso de mc's que por falta de treino e estudo, ou por incapacidade crónica só conseguem mesmo ser bons num determinado estilo. No rap temos se calhar o exemplo do Cannibus, que até já tentou fazer uns storytellings, umas coisas mais abstractas, mas nada que se compare ao seu battle rap (do qual ele foi um dos maiores inovadores). No futebol temos o caso do Hugo Viana, que se destaca pela sua qualidade de passe e pouco mais. Jogador altamente limitado. Tem pouca criatividade, é fraco a defender, pouco veloz, mau no jogo aéreo enfim… (desculpem-me os fãs do Hugo Viana mas ele é básico pa' caralho). Dedicação – Existem mc's muito talentosos, mas que às vezes por não terem paciência de ficar horas, dias , semanas ou se necessário meses à volta de uma música, fazem as tais letras de “ 5 minutos” e não conseguem traduzir nos seus trabalhos todo o talento que têm. Muitos são mc's famosos nas suas zonas e por isso muito solicitados por “amigos” e “amigas” que lhes retiram muito do tempo que poderiam investir na música. É pena. No futebol temos como melhor exemplo o Dani. Jogador prodígio desde tenra idade que nunca conseguiu exponenciar todo o seu potencial futebolístico. Treinava e empenhava-se menos que os seus companheiros, perdeu-se em noitadas, holofotes e groupies. Os Parceiros – Num qualquer jornal desportivo, Figo dizia que o facto de ter crescido e de ter partilhado vários anos nas selecções jovens com jogadores como João Pinto, Rui Costa, Capucho etc, fez com que estivesse sempre a competir e a aprender com aqueles grandes jogadores. Disse que foi marcante no seu trajecto e esse facto fez com que se tornasse num dos melhores jogadores do mundo. É muito difícil ser-se grande mc quando só se está rodeado de wack rappers. O artista assim como o jogador de futebol precisa de estímulo, de inspiração e de competição à altura para poder evoluir. Hall of Fame – Certos mc's são capazes de arrebentar numa ou noutra mix-tape, numa ou noutra participação, num ou noutro som, mas depois não têm consistência e solidez suficiente para fazerem um álbum com um nível alto. São mc's de momentos e que serão facilmente esquecidos pela História. Pedro Barbosa cabe perfeitamente neste exemplo. Jogador superiormente dotado, mas que em quase toda a sua carreira só fez grandes jogos esporadicamente. Quase sempre irregular e inconstante nunca se afirmou na Selecção Nacional apesar do seu soberbo talento. Provavelmente os nossos filhos nunca ouvirão falar dele, porque não chegou ao Hall of Fame. O Ciclo –.Vários jogadores de futebol, depois dos seus tempos auspiciosos, passam a barreira dos 30 vão diminuindo as suas capacidades e o seu rendimento. Muitos não sabem quando se reformar e arrastam-se pelos campos de futebol, quase que pedindo uma bengala para não caírem. Com o tempo perde-se paixão, motivação, brilho e energia. O mesmo acontece no rap. Nenhum mc dura para sempre, e é quase impossível alguém aguentar num patamar muito elevado por mais de 10 anos. O caso de Rakim é paradigmático. Ele era o Deus, o MC dos mc's na segunda metade dos anos oitenta. Reformou-se na primeira metade dos anos 90, mas depois resolveu voltar em 97. Já não era o Deus, era apenas mais um bom mc, e há medida que o tempo foi passando foi-se sentindo cada vez menos encanto e flamância no seu rap. Não soube sair. Rakim deveria aprender com Zidane (excepto os truques de Kung-Fu claro ehheh). Hype – Tenho uma vizinha de 19 anos igual à de muitos outros, que diz que adora futebol e que para ela os melhores jogadores do mundo são o Beckham e agora o Cristiano Ronaldo. Obviamente que ela diz isto porque estes são dois símbolos sexuais para as mulheres, e porque também são dos jogadores mais expostos na media.. No rap também acontece algo muito parecido. Muitos leigos, que conhecem rap através da MTV, na altura de nomear os seus mc's preferidos citam naturalmente aqueles que aparecem mais nos ecrãs. Hoje em dia o 50 Cent é capaz de ser o melhor rapper do mundo para milhões de pessoas, mesmo com todos aqueles Kilolitros de merda líquida nas suas rimas. Fuck The Hype, diriam os Public Enemy em 2006. Valete Sábado, 8 de Julho de 2006  Criminologia Muito vezes, o aprofundamento de certos assuntos torna-nos maus comunicadores, mas em determinadas ocasiões é necessário arriscar a eficácia comunicativa para não deixarmos escapar informação basilar que sustente a nossa argumentação. Quando escrevi o texto “Extremista”, e referi que aceito todo o tipo de “crime consciente” de manos que são vítimas da exclusão social, que sobrevivem nesta oligarquia do Ocidente e que assaltam grandes estruturas financeiras, provavelmente deveria enquadrar este pensamento em mais dados que facilmente explicam a minha posição. No Fórum da Horizontal, desenvolveu-se um debate sobre este tema, e lá pude defender com mais detalhe a minha perspectiva. Vou colocar neste texto muito do que escrevi nesse tópico do Fórum, para desta forma estar mais acessível a toda a gente. Em primeiro lugar é preciso entender, que existe uma relação necessária entre a “criminalidade” e a pobreza e desigualdade social. O combate ao crime é uma tarefa utópica enquanto existir gente perpetuamente condenada ao desemprego ou ao trabalho precário. Quem tem fome quer comer, e quando se está faminto a moralidade vale sempre menos que um prato de comida. Cada modelo económico cria fatalmente um modelo político. A Infra-estrutura gera a Super-estrutura. Um modelo económico capitalista como o nosso, necessita de criar um Estado que proteja os interesses dos dinamizadores desse sistema (multinacionais e grandes proprietários), para que estes possam criar cada vez mais riqueza à base da exploração de quem realmente a produz (nós, os trabalhadores). Num Estado gerado por um sistema capitalista, as leis mais não são que instrumentos para regular a opressão da classe “burguesa” sobre a classe operária. Por isso a noção que nós temos de “crime”, foi-nos imposta por uma elite determinada a servir o modelo económico existente. O que hoje nós dizemos que é “crime” não é uma expressão da nossa Moral, não é uma aplicação da Justiça, não é uma manifestação do espírito do Povo, é sim, em primeiro lugar uma capa de protecção para os ricos e abastados. NÃO FOI A MORAL QUE DETERMINOU O QUE É O CRIME, FOI O CAPITALISMO . Por isso é que: O teu patrão nunca será preso por não te pagar salários, mas tu poderás ser preso se tentares usufruir de algum produto da empresa que tu próprio ajudaste a fabricar. Por isso é que: O teu empregador, tem direito de te pagar 0,001% daquilo que tu produzes. Tu és apenas um escravo. O salário que te pagam serve apenas para te manteres vivo, porque convém sempre que vás trabalhar no dia seguinte. Por isso é que: Certas empresas colocam-te em estágios não remunerados durante 1 ano… como se alguém precisasse de 1ano para aprender uma profissão. Por isso é que: Hoje a lei permite que empresas tenham mais trabalhadores precários, do que trabalhadores efectivos. Por isso é que: É legal a venda do tabaco, do álcool e centenas de outros produtos (medicamentos e alimentos) altamente tóxicos, enquanto tens manos com 16 anos presos, por traficarem 50 euros de haxixe no jardim do teu bairro. Por isso é que: A Banca é uma das áreas de actividade económica mais lucrativas do nosso país, e por coincidência, é aquela que tem mais regalias fiscais. Para o Estado é mais importante sobrecarregar com impostos aqueles que mal ganham para viver, do que aqueles que nem conseguem contar o dinheiro que ganham. Por isso é que: Os “Vikings” americanos têm direito de entrar no teu país, destruir tudo à volta, torturar e matar a tua população, roubar as tuas riquezas e ainda cuspirem na tua cara dizendo que são os libertadores que vieram implantar a paz e a democracia. Por isso é que: Etc, etc, etc… Como devem imaginar poderia encher todo o espaço em branco deste blog com mil e uma “legalidades” escandalosas que o Poder político validou para auxiliar o Poder económico. Aqueles que acreditam na separação e na independência do Poder Político em relação ao Poder Económico, mais não são que crónicos inergrumes que vivem adormecidos pelo fedor de toda esta imundície. Sou claramente contra a violência desnecessária, claramente contra o roubo de pessoas que estão na batalha árdua do dia-a-dia, claramente contra o tráfico de drogas duras ( são os nossos que estamos a matar), mas não esperem que fique incomodado, quando oiço notícias de alguém necessitado que assaltou um Banco, um “Belmiro de Azevedo”, ou uma bomba de gasolina. Bem pelo contrário, dá-me um gozo do caralho. Valete Terça-feira, 2 de Maio de 2006  Serviço: Público Ser ou não ser...és ou não és...sou ou não sou: PÚBLICO... Imagem, reflexo visual representante de algo, alguém ou de nada. Mas calma...de que público fazes tu parte? Ou eu faço...o ser Público ou pertencer ao público? Na verdade os dois são inseparáveis pois um é dependente de outro e ooutro é o que torna o outro no que é, formando uma espécie de união ou unidade. Ora bem,"rap'mente" falando...o chamado underground ou backpacker mc nos seus primeiros passos clama e pretende manter-se ligado ao publico mas mantendo-se "invisível"...(epa pelo menos em Portugal...eu não vou aparecer na tv...ya tipo em 97 ainda há dessas dicas) Será possível? Talvez...mas não pra sempre...ate Gnarls Barkley ou MFDOOm bate mais que o Tony Yayo! E aonde é que eu quero chegar?....É assim, há que saber as definições dos termos e as razões pela qual estamos aonde estamos. Será fama, reconhecimento? Será fartura, sucesso? Será, anonimato independência? Se a sua resposta é não e você respeita, e pretende ou tem/representa as segundas opções então estamos de acordo e você é, sou, somos públicos. Falando por mim, a razão pela qual faço rap, é única e simplesmente de ter crescido influenciado pela cultura...sim cultura...hiphop e pelo amor à música. Se tudo aquilo que faço representa os meus pensamentos, credos realidade e liberdade expressiva nem que o faça com o Jaimao em frente do Odji Fortuna eu faço-o sem pensar duas vezes! (talvez estou a ser um pouco extremo...hehehe) Eu não quero dar muitas voltas, trouxe este assunto em cima da mesa simplesmente pela razão de haver muita confusão e muito falar à toa...ya isso, muito falar a toa sobre o que é o rap verdadeiro e o que um rapper verdadeiro faz..quando tais pessoas nem sabem quem é o Kool Herc e só tem cd's vindos de Jimmy Ivinne(haa também não o conhecem? É o tal que controla a Interscope, que alimenta a Aftermath onde está a Shady, onde está a G-Unit e onde está....bla bla bla). O Underground e Comercial não tem nada a ver com aparições, nem o real e o falso com mash-ups ou participações. É tudo muito simples...a realidade, liberdade, originalidade, personalidade, conhecimento e sentimento fazem parte e fazem o que vocês chamam "real mc"...e é mesmo isso...simples: ou tens ou não tens...ou és ou não és....não tem nada de ah mas foi assim, ah mas ele ah mas....põe o mas no bolso! Publico, publicidade, propaganda...atingir, afectar, influencia, mudança é nisso que acredito. Luther, X, Shakur, até o Bush(son of a gun)....sem isso...não seriam isso! Ser ou não ser...és ou não és...sou ou não sou: PÚBLICO... Imagem, reflexo visual representante de algo, alguém ou nada. PS-E pra certos comentários, boatos, rumores...cá vão certezas...o PUBLICO publicou sem consentimento meu ou qualquer tipo de notificação ou pedido o tal artigo...Nada Perder...talvez tenho...mais a ganhar...muito mais....mais que talento, mais que imagem, mais que isso...o ser PUBLICO: atingir, afectar, influenciar, mudança SERVICO:COMPLETO. Sir Scratch |
|