Sábado, 8 de Outubro de 2005

30 euros para apoiar o Machismo

Domingo, dia 2 de Outubro, dei por mim atónito e boquiaberto durante todo o dia quando soube que estiveram perto de 10 000 mulheres a ver o concerto de 50 Cent. Acredito que algumas (muito poucas) possam ter ido ao Pavilhão Atlântico só para ver Boss Ac, mas a verdade (crua e letal) é que a esmagadora maioria foi mesmo lá para ver, aplaudir e vibrar com a Besta esteroidizada.

50 Cent é um rapper assumidamente e brutalmente machista, defensor da opressão masculina sobre as mulheres e que sempre fez questão de promover o sexo feminino como um objecto de consumo de baixo preço.

Acredito que muitas dessas miúdas (algumas já bem crescidinhas) não percebam inglês. Mas será preciso? Claro que não, basta ver aqueles vídeo-clips clichet, onde por vezes se chega ao cúmulo de se contratar mulheres, apenas para disponibilizarem o seu rabo para levar umas palmadas. É a mais bárbara redução do sexo feminino à estupidificação.

Não, não é meus caros.. A mais bárbara redução do sexo feminino à estupidificação, é fazer com que milhares de mulheres paguem 30 euros para apoiar o maior símbolo do orgulho machista. Isto sim, é Big Pimpin'.

Uma mulher num concerto de 50 Cent, é exactamente o mesmo que um negro ou um judeu numa concentração Nazi.

Numa altura como esta, o que sentirão todas as mulheres que acreditaram, lutaram (algumas deram a vida) pela emancipação feminina nestas sociedades repressoras. Sentirão o mesmo que eu certamente. Nojo, muito nojo.

É uma imagem arrepiante. Milhares de parvalhonas com baba a escorrer pela boca, de mamilos embicados, e com dois dedos no clítoris a masturbarem-se em honra à sua condição de submissas e vassalas.

No fundo 50 cent é uma versão futurista de Casanova. É alguém que com a sua música de hipnose e com um corpo Stalonizado., conseguiu com que milhões de mulheres em todo o mundo perdessem os seus valores, o seu orgulho e a sua auto-estima para o venerarem ao ponto de gritarem com ele “Viva o Machismo”.

Valete

 

Sábado, 8 de Outubro de 2005

O Calcanhar de Aquiles

"Eish ... lá vem este gajo com os títulos da mitologia grega..." . Processem-me.

Bom.. posto isto , cá eu vos trago o segundo texto meu para o Blog do pessoal da Horizontal . Não tencionava voltar a esta minha faceta de "Jornalista" , mas após ter visto a quantidade de bons comentários ao meu Cavalinho de Tróia achei que podia fazer "render o peixe" e falar-vos de algo um pouco mais sério e também um pouco mais importante.

Tenho analisado várias opiniões dos HipHoppers Tuga de hoje , seja em fóruns de internet , conversas , letras das músicas e cheguei à conclusão que das duas uma: Ou ninguém ainda se apercebeu do nosso Calcanhar de Aquiles , ou então estão todos a tentar ignorá-lo (Quando digo "Ninguém" e "Todos" são forças de expressão).

 " O kék foi desta vez ?!!??! Diz-nos tENSINHO!!!!!!!!! "

Como sabem , ou pelo menos deviam saber , " Calcanhar de Aquiles " significa , na linguagem corrente," Ponto Fraco ".

A maioria de nós ouve rap americano, e conhece os trajectos dos famosos rappers ke todos ja idolatrámos , desde os tempos de MC de esquina até Disco de Ouro com Grammy's e tudo mais. A verdade é que estas histórias nos acabam por entrar como alimento de sonho pessoal , todos queremos ter também um trajecto brilhante como Rappers , DJs , Productores etc.

É aqui que entra o nosso Calcanhar de Aquiles, o nosso Ponto Fraco, o nosso "é por aí que o gato vai às filhozes". Enquanto na América muitos rappers se têm gabado de que o rap "os tira das ruas" , eu quer-me fortemente parecer que em Portugal o rap está prestes a " pôr gente na rua ". Decerto que por esta altura já vos captei a atenção ;). É verdade, como sabemos mais de 70% dos rappers de hoje estão na adolescência ou prestes a sair da mesma, eu próprio com os meus verdes 20 aninhos me incluo nessa classe com todo o prazer. O problema é que o RAP é suposto instruir, ser didáctico, é suposto ser algo que guia as pessoas na vida e não algo que as manda para a chamada "Fossa". Actualmente a grande parte dos MCs já chumbou 2 a 3 vezes (eu pessoalmente chumbei duas :| ) por dedicar demasiado tempo ( o meu caso ) ao trabalho de RAP ( totalmente eu!!! ). Muitos deles largam a escola para arranjar um emprego ke lhes dê dinheiro para lançarem o respectivo álbum, outros simplesmente só pensam em rimas e batidas e livros 'tá quieto, outros preparam-se para tentar viver disto etc etc.

Será possível viver do RAP ?

Sim.....aliás Não. Tudo é possível, sim isso é verdade, mas até ao momento não foi possível e não me parece que venha a ser tão cedo. É uma chance de 1 em 1000 a de isso poder acontecer, e não acho que seja uma probabilidade em que valha a pena apostar a vida, o curso, o futuro emprego e tudo mais. Querem dedicar-se ao RAP? Apoio 100%, desde que não larguem os estudos. Querem viver do RAP? Apoio totalmente, desde que tenham uma base de alicerce, um canudo carimbado por uma faculdade, que não vos deixe cair.

Vamos analisar isto assim :

Peguem num mapa mundo, comparem o tamanho geográfico do nosso país com o dos EUA . . . já está ?

Ok . Agora imaginem quantas pessoas vivem num país no tamanho dos EUA e quantas pessoas vivem em Portugal . . . tá feito ? Ok .

Aproveitem e digam-me qual é a língua mais falada em todo o mundo. . . pronto. Para finalizar digam-me quantas vezes já não disseram "Portugal é uma merda, curtia era viver na América ou Inglaterra". . ok muito obrigado.

É aqui que reside aquilo em que devem pensar quando pensam em dedicar-se a isto e SÓ a isto. Nós somos um país mto pequeno em ke milhões de discos vendidos são praticamente utopias , embora a nossa lingua seja falada em muitos países o nosso RAP ainda não está a vender de uma forma CONSIDERAVEL lá fora , tirando estes países ninguém percebe a nossa lingua , e para finalizar (agora a vergonha) somos maioritariamente um povo não patriota , que diz descaradamente que quase tudo o que é Português é mau. ISTO É UM ENORME CALCANHAR DE AQUILES !!! CALCANHAR DE QUEM CALÇA O 65 !!!!!!

Pensem nisto e não deitem a vida fora à toa.Ah e.....continuem a sonhar , somos nós que vamos tornar as coisas possíveis......AOS POUCOS.

X-Tense , Deck-Arte

 

Domingo, 25 de Setembro de 2005

O Underground e o Comercial

Como é mais que evidente para todos, Underground e Comercial são dois dos conceitos mais badalados e discutidos na comunidade Hip Hop. Hoje resolvi deixar aqui a minha perspectiva em relação a estas duas “palavronas”, que por vezes parecem atingir enorme amplitude filosófica, e por isso suscitam frequentes polémicas e controvérsias.

Facilmente consigo dividir o conceito de Underground em dois sub-conceitos. O Estado Underground e a Filosofia Underground.

O Estado Underground, tem naturalmente a ver com uma situação de pouca visibilidade, de pouca exposição. Todo o artista com pouca ou nenhuma promoção nos meios de comunicação social, e que por isso é desconhecido do grande público está numa condição de artista underground. Ele pode até fazer a música mais radiofónica que existe, mas sem promoção ele fica underground.

A Filosofia Underground tem a ver com uma cultura de oposição que se desenvolveu em relação ao mainstream. Todos sabemos que o mainstream regulado pela a indústria musical, o mercado e o lucro, força muitas vezes os seus artistas a fazer músicas que não gostam e a ter comportamentos de conveniência para que possam alcançar ou ultrapassar a estimativa de vendas estabelecida pelos executivos engravatados das editoras. É o lucro em primeiro a arte em segundo. A Filosofia Underground representa a antítese dessa conduta. Os músicos seguidores desta filosofia, nunca abdicam de fazer a música que querem e sentem, por mais que sejam aliciados com dinheiro e fama. Filosofia Underground - A arte em primeiro o lucro em segundo.

Comercial é toda a música feita com um primeiro intuito de vender, e que relega para segundo plano a qualidade e originalidade da mesma.

Atenção – A música comercial não tem uma característica comum. Muitas vezes chama-se de comercial a qualquer balada ou música festeira. Essa apreciação é completamente errada, porque todas as correntes musicais são legítimas e porque o autor da música pode realmente gostar daquilo que faz.

Não há mal nenhum em fazer-se uma música romântica ou festiva desde que se sinta o que se está a fazer.

Esse tipo de conotação surge porque muitas rádios e alguns canais de TV especializados em música, decidiram imperativamente que só põem em rotação (massiva e torturante) músicas de amor e músicas de festa com aquele refrãozinho para colar no ouvido. Resolveram então marginalizar todas as outras músicas que não se enquadrem nesses parâmetros. É desta forma arrogante e conservadora que as rádios e as MTV's decidem aquilo que o público em geral deve ouvir. A maioria das pessoas não ouve o que quer, ouve o que lhes dão.

Muitos músicos alinham devotamente nesta ditadura musical, e entram nesse espírito de periodicamente (sempre que lançam álbuns) “oferecer” singles à rádio, como se a rádio fosse aquela miúda singela e virgem lá da zona, que todos anseiam conquistar.

É daqui que vêm os comerciais. Os comerciais são os lambe-cus das rádios e das MTV's. Existem mesmo editoras que não dão o álbum como pronto, até o artista ter sons que possam passar na rádio. Ou seja, existem por aí muitos autores de música festeira que nem gostam de dançar, assim como muitos músicos românticos de coração duro e gélido.

Aqui ficam dois excertos de declarações, que visam reforçar tudo o que escrevi.

“Admiro muito os Gangstarr, porque conseguiram construir uma carreira praticamente sem sons radio-friendly. Eu a certa altura da minha carreira fui obrigado a ter sons que pudessem passar na rádio para dessa forma poder ter sucesso. Se o teu som não tem airplay na rádio, dificilmente vendes.” Fat Joe

“ Lauryn Hill e o Mos Def são artistas que foram praticamente afastados pela indústria porque estavam em majors e não queriam jogar o jogo da indústria, eles só estavam preocupados com a arte e estavam-se a cagar para o negócio. A indústria afastou-os. Kanye West tem que ter cuidado porque o mesmo pode acontecer com ele.” Big Tigger

Valete

 

Quinta-feira, 11 de Agosto de 2005

O Extremista

Sexta-Feira passada fui à Fnac do Chiado, e lá encontrei uma ex-amiga, hoje mãe solteira com um filho de 11 anos. Disse-me que o filho é um grande fã de Hip Hop tuga e por isso comprou-lhe a compilação Poesia Urbana vol I. “Foi a pior coisa que fiz!” disse ela de forma exaltada. Ficou horrorizada com o meu som Fim da Ditadura e disse que aquilo era o tipo de coisa que ela jamais queria que chegasse aos ouvidos do filho. Chamou-me de insensato, terrorista, e extremista. Foi-se enervando e disparou-me com a palavra Extremista inúmeras vezes.

Neste modelo de sociedade em que estamos inseridos, onde as pessoas são manipuladas para terem medo de rupturas e revoluções e onde lhes é incutido uma espécie de paranóia pela moderação, ser extremista é ser demente, fanático e inconsciente.

Mas afinal o que é de facto um extremista? Extremista é todo aquele que adopta teorias extremas/fracturantes e que não está disposto a negociar e a abdicar delas por motivo algum.

Como Trotskista que sou, defendo o diálogo e a negociação constante como forma de se arranjar as melhores soluções para cada situação. Todas as ideologias podem ser readaptadas à realidade existente. É necessário, perceber os novos tempos, as culturas, os comportamentos, o clima, a geografia, etc, para se poder evoluir para sociedades mais justas e igualitárias.

Mesmo sendo uma pessoa aberta e dialogante, sou extremista em muitas coisas e orgulho-me disso. Há muita coisa que para mim não tem meio-termo, nem Lado B.

Sou extremista com muito gosto , quando digo que em situação alguma apoiarei esse tipo de guerras “à americana” cujo o resultado final traduz-se quase sempre na morte de milhares de pessoas inocentes e na extorsão da riqueza dos outros.

Sou extremista com muito gosto , quando me recuso a comprar produtos de empresas que têm como prática comum, o desrespeito pelos direitos humanos, muitas vezes pondo crianças a trabalhar como máquinas durante 14 / 16 horas por dia. (normalmente existe a tendência para se culpabilizar as marcas mais conhecidas, mas muitas vezes são as empresas que têm as marcas brancas que mais têm esse tipo de conduta.)

Sou extremista com muito gosto , quando aceito todo o tipo de “crime” consciente de manos que são vítimas da exclusão social, que sobrevivem nesta oligarquia do Ocidente e que assaltam grandes estruturas financeiras como Bancos, Bombas de Gasolina ou Hipermercados.

 Sou extremista com muito gosto , quando digo a esses executivos de editoras que não vale a pena marcarmos reuniões para eles me tentarem convencer a assinar contratos que me vão forçar a fazer música que não quero.

Ser extremista em situações de luta e protesto, faz de nós activistas e isso tem enorme relevância nas reformas e transformações que desejamos. Moderados não fazem História.

Valete

 

 

Sábado, 18 de Junho de 2005

Os MP3, a pirataria e os artistas – PARTE II

Em Angola, assim como na maior parte dos países de África onde a divisa é normalmente “Desenmerda-te ou acabas na merda”, existe uma profissão muito peculiar que é a de vendedor ambulante. São jovens que na falta de melhor (35% de desemprego), vão às grandes praças munir-se de artigos que acham poder vender com facilidade, e depois amontoam-se ao longo das ruas e cruzamentos onde os semáforos são mais demorados, desfilando com a sua montra de braço rua acima.

Acaba por ser um negócio lucrativo, porque a maior parte das pessoas não tem tempo ou vontade de ir às praças, e tem nos ambulantes um autêntico centro comercial móvel, em cada esquina da cidade onde os produtos vão até ao consumidor e não o contrário e onde se pode encontrar a mais variada gama de artigos desde mosquiteiros a jantes especiais, de havaianas falsas aos Miguel Vieira (muitas vezes também eles falsos), de relógios de parede a antenas parabólicas.

Mas toda esta introdução para dizer que entre estes vendedores, há também aqueles que se dedicam à venda de cds, andando com sacos e caixas deles, todos piratas, gravados em casa mas sempre com a preocupação de se embelezar a capa, normalmente com um título simpático tipo: “Damas do Rap Americano” ou “Os balanços mais quentes do momento”, normalmente com aqueles efeitos de texto burros do word e com muitas fotos em ponto pequeno de artistas que muitas vezes nem têm faixas nos tais cds.

Ali há cds áudio e cds de mp3, e há sempre as novidades mais frescas do “top dos mais queridos” americano, mas também tem Pedro Abrunhosa, Sara Tavares, Ms Dynamite, U2, enfim, se bateu ou está a bater eles têm. Não sei quanto a vocês caros leitores, mas eu, enquanto artista pequeno, que quase não dá concertos, que não tem videoclip na televisão (ainda), que mal e porcamente passa na rádio, que depende quase unicamente do veículo promocional de passa-a-palavra por parte daqueles que, entre os que ouviram a minha música, a acharam suficientemente boa para mostrá-la a outros, senti uma enorme alegria e vaidade ao ver a minha música a ser comercializada por esses rapazes que:

1) Não são membros integrantes e estão a cagar-se completamente para o movimento hip hop e portanto

2) Não me conhecem e não me devem respeito nenhum

3) Só metem nos seus cds aquilo que considerem ser material vendível

4) Estão a ajudar a difundir a minha música, coisa que quem podia fazer não faz

5) Vendem os cds a 100 Kwz, que é como quem diz 1€

Dizem que só mostro um lado, mas o que os outros todos fazem é mostrar o outro, o que demoniza a pirataria e os mp3, o alvo mais fácil para meter as culpas dos baixos níveis de vendas. Pois permitam-me modestamente apontar-vos outras faltas das quais somos os únicos responsáveis:

1) Estudo de Mercado

É imperativo quando se larga o patamar “fazer música na minha cave para os meus amigos” para se procurar furar na “indústria”, conhecer o tipo de mercado existente para o estilo de música pelo qual se optou. Há vários métodos para o fazer mas o mais pessoal talvez seja medindo o nível de assiduidade das pessoas aos concertos. Cada grupo faz a sua, porque muita gente apanha fezada de grandes nomes no cartaz e actua em sítios bem cheios o que não reflecte necessariamente a sua audiência.

Dás concertos? Quantos concertos por mês? Quantas pessoas costumam lá estar e o mais importante de tudo, em que faixas etárias se situam essas pessoas? Já devem ter reparado que “os pupilos” do hip hop andam todos entre os 14 e os 20 e poucos anos né? Existem algumas excepções, claro, os familiares do cantor que vão apoiá-lo a dois, três, quatro concertos (“JÁ CHEGA NÃO MC AMENDOIM??? TOU CANSADA DOS TEUS CONCERTOS É SEMPRE BUM BUM BUM E PEOPLE A FUMAR GANZAS. PRA MIM BASTA”), o rapper da “velha escola” que gosta de ir mostrar solidariedade porque ele entende o que é um show às moscas, e uns transeuntes perdidos que acabaram ali nem eles próprios sabem como, mas desde que haja álcool e música alta ‘tá a andar (exagero, há alguns kotas que curtem mesmo do ritmo).

Sabemos que a geração à qual o hip hop apela é essa, a dos putos, a geração dos economicamente dependentes dos pais, com uma mesada magra que só dá para a merenda e o café diários na escola e 1 cd no fim do mês. Sabemos também que os textos do hip hop apelam mais ao pessoal desfavorecido que se identifica mais facilmente com a realidade que os artistas transmitem nas músicas.

Estaremos portanto a fazer música exclusivamente para a criançada dos bairros sociais, os rebeldes sem causa? Desculpem a generalização mas estou a falar em maiorias, não há por aí muitos gajos a girar em SLK's descapotáveis a ouvir “National Ghettografik” ou “Mulher que Deus amou” e essas são das músicas que até podiam ser mais abrangentes. Muito mais difícil ainda é entrarem numa discoteca que não seja especializada e estar a bater “Pseudo Mc's” ou “Hip hop não é nada”, portanto estou a cingir-me ao grosso da malta do hip hop.

Outro bom método é analisarem os níveis de venda uns dos outros e estipularem uma média para terem uma noção do crescimento ou não do género no vosso espaço geográfico. Aconselho-vos a deixarem de fora da análise de volume de vendas o SAM THE KID, porque ele já joga noutra liga, o seu público é muito mais diversificado, as vendas dele não reflectem o movimento hip hop. É no entanto imprescindível que analisem as razões que o levaram a ter essa projecção já que todos somos testemunhas que ele não “reformulou” o seu produto para se adequar aos consumidores, faz o que sempre fez e cada vez melhor, e todo o reconhecimento que tem é mais que merecido. Analisem melhor a sua ascendência, ter instrumentais dele nos vossos álbuns não é suficiente para vos meter lá também.

2) Ser realista e pragmático

Depois de constatarem qual é na realidade o potencial público comprador de hip hop, vejam se não é melhor continuar “na cave” e não dar um passo maior que a perna. Melhorem as condições da cave, a qualidade do vosso produto tudo muito bem, mas é ser Pedro Lamy na F1 querer ter a qualidade de um estúdio que custa o olho do cu por hora, um livrinho que acompanha o cd com muitas páginas e com a qualidade do topo da escala. Acabam por gastar mais do que aquilo que hão de receber das vendas e tudo porque não são realistas.

Os espaços conquistam-se aos palmos e não aos hectares . E o ponto mais importante do realismo: Apaguem imediatamente da mente a ideia que algum dia conseguirão com a música comprar uma mansão e dar festas nudistas com churras e birra, mais rápido chegam lá assaltando um banco. Tenham presente que em Portugal “O Disco de Ouro passa a ser atribuído por vendas superiores a 10.000 exemplares (o que equivalia ao Disco de Prata, agora extinto), enquanto o galardão Platina é atribuído por vendas superiores a 20.000 cópias (o que equivalia ao anterior Ouro).”. Fonte: http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=535822&div_id=291

Não tem nada a haver com a América onde a platina equivale a vendas superiores a 1 000 000, cifra atingida por muitos artistas e que os torna milionários. Vocês podem até atingir a platina, mas isso não vos comprará nem uma casa em cascais nem o Ferrari do 50 Cent. Desçam à terra, que nós aqui em baixo estamos de braços abertos e preparados para dar-vos as boas vindas.

3) Ter discernimento e profundidade de análise

O álbum que foi sacado 100 vezes da net não é nunca o mesmo que 100 cópias que não se venderam, isso é pura ilusão, uma falácia.

4) Construir uma identidade

Quando saiu o álbum (Entre)Tanto achei que o Hip Hop português ia começar a demarcar-se dos outros, ganhar o seu carácter e o seu cunho nacional próprio, mas os anos que se seguiram provaram-me do contrário. O Hip Hop é como um filho que adoptamos, mas se o trouxemos dos Estados Unidos não vamos fazer com que cresça como um americano não é? Vamos dar-lhe a educação que recebemos, a nossa, que reflecte a nossa realidade, o nosso canto do mundo. Em Angola há uma preocupação crescente com a incorporação no hip hop de música angolana de raiz, nem que o preço seja algum ritmo um pouco distinto do hip hop tradicional, mas é o nosso hip hop e a nossa gente cada vez mais o abraça e cada vez mais se identifica com esse estilo que apesar de moderno e estrangeiro rende homenagem aquilo que somos, à angolanidade.

Precisamos de conseguir considerar tudo isso como factores que influenciam a nossa aceitação e os nossos níveis de venda, ser mais abrangentes dentro do nosso estilo musical. A responsabilidade de chegar aos ouvintes e de conquistá-los é nossa e de mais um punhado de pessoas que podem ou não estar dispostas a dar-nos o empurrão. Deixemos de procurar um bode expiatório para o nosso fracasso, e deixemos de encarar os fracassos como tal, olhando para as nossas realidades nacionais como as verdadeiras vacas parideiras dos insucessos e as assassinas de sonhos.

Deixo-vos com algumas páginas interessantes que encontrei fazendo a pesquisa para defender os meus argumentos e algumas citações importantes das mesmas:

Um estudo do NPD Group , citado pela BBC, conclui que 85% das pessoas que procuram música na Internet fazem “download” de apenas um tema. Fonte:

http://jpn.icicom.up.pt/2004/03/12/substituicao_do_top_de_vendas_de_singles_por_dvd.html

“ Não obstante, e porque qualidade não falta, o peso da Música Portuguesa no mercado discográfico é hoje maior do que há dois anos , figurando 10 discos portugueses entre os 30 álbuns de Artistas que mais venderam no ano 2004. Mas quem é que pode assegurar a sobrevivência quando a esmagadora maioria desses discos portugueses não figura sequer entre os 100 trechos mais tocados na Rádio Portuguesa , se é que em muitos casos "portuguesa" lhe podemos chamar?!”

Procurem no fundo da página:

“Questões preocupantes

- Os livros pagam, e muito bem, 5% de IVA. Os discos pagam 19% ( brevemente pagarão 21%)
. Porquê?

- Entre os 30 discos mais vendidos em 2004 estão os álbuns "-Re-Definições dos Da Weasel (3º lugar), "Concerto Acústico" de Rui Veloso (9º) e "Fado Curvo" de Mariza. Nenhum deles consta da lista dos temas mais escutados nas rádios nacionais .”

Fonte: http://www.spautores.pt/page.aspx?contentId=216&idMasterCat=39

E para terminar, este manifesto:

http://www.pedrobarroso.com/manifesto.htm

Paz

Ikonoklasta

 

Segunda-feira, 6 de Junho de 2005

Os MP3, a pirataria e os artistas – PARTE I

"Puta de pirataria"

"Por causa dos mp3 soube da existência de artistas que não conheceria de outro modo"

"Sacar os sons da net, é ingrato para o artista e impede-o de continuar a criar".

Tudo isto são alegações válidas e bastante correntes num argumento entre jovens músicos acerca das vantagens e desvantagens que advêm do crescente e imparável mercado dos mp3. Mas independentemente do lado da trincheira em que cada um está acantonado, esperneie-se ou festeje-se, o mp3 é um fenómeno que veio para ficar e teve uma tal projecção em tão curto espaço de tempo, que as batalhas legais que se vão travando em prol da indústria discográfica e contra a partilha de mp3 pela net, não têm levado a grandes conquistas do lado dos acusadores. E isso deve-se ao facto de os programas de partilha de ficheiros, conhecidos como programas peer-to-peer (P2P) não serem mais do que "pontos de encontro" para utilizadores individuais que têm a sua música, comprada ou não, nos seus discos duros.

Este processo utilizador-utilizador funciona da seguinte maneira: se eu sei, descobrindo através de uma busca, que o João tem um álbum que eu estou a procura, vou directamente ao seu computador descarrego-o para o meu. Imaginem isto como uma conversa num bar entre duas pessoas que descobrem ter gostos comuns e resolvem trocar discos. Os programas P2P são os bares e tudo o que eles proporcionam é o espaço, não havendo nenhuma parte que lucre com isso, (nem há consumo mínimo nesse bar) não estando ninguém a fazer dinheiro em detrimento do artista e sendo por isso difícil provar que existe alguma ilegalidade nesse processo.

É engraçado no entanto que os mais entusiastas entre os anti-mp3iros façam eles próprios uso desse formato, se não descarregando eles próprios através do amigo que lhes vai fornecendo um álbum ou outro. A questão: haverá algum amante de música nos dias de hoje que não tendo capacidade de comprar tudo o que gosta, resista a tentação da facilidade de uma descarga pela internet? E de certeza que a maioria, para não incorrer na arbitrariedade de dizer todos, dos egos magoados, proclamadores de discursos inflamados anti-mp3, dos gatos de poltrona com pretensão de leões selvagens (de circo talvez), há de ter de admitir a contra gosto fazer parte dos culpados, conservar o seu silêncio acusador, e quissá mudar de postura. Isso é tanta hipocrisia quanto a de um trintão anti-pedofilia namorando uma catorzinha às escondidas.

Já agora, e ainda no tema da pirataria, gostaria de deixar no ar as seguintes interrogações:

Existira entre nós alguém que não tenha nunca copiado cds de outrém e não tenha em casa cópias de álbuns entre a sua colecção de originais? Isso o que é? Não é pirataria?Quantos desses "apoiem o artista e não saquem da net" não terão nunca comprado álbuns em segunda mão? Acharão por acaso que o dinheiro dessa compra vai para o artista?

É altura de nos deixarmos de falsos moralismos, e tentarmos encontrar maneiras de tirar partido desse formato milagroso, sem o qual muitos não teriam sequer sabido da nossa existência. Uma coisa precisa de se ter presente: nos nossos países (Angola e Portugal), salvo algumas excepções, não se vive da música, e muito mais difícil então será enriquecer com ela, por isso, é preciso de deixar de olhar para os vídeos estrangeiros como um retrato do ponto onde a música nos pode levar. Aceitemos a nossa situação de eternos indigentes e culpemos a falta de aposta na promoção de artistas jovens e uma quase total abnegação da diversidade e ecletismo nos nossos panoramas musicais, e não os mp3 que pouco ou nada influenciam os nossos já por si débeis níveis de vendas.

Paz

Ikonoklasta

 

 

Segunda-feira, 6 de Junho de 2005

Cavalinho de Tróia

Confesso que não sou e nem pretendo tão cedo ser, um ouvinte assíduo de Rap "Tuga" , não por preferência , não por falta de interesse ou respeito , simplesmente porque ainda não encontro cá em quantidades convincentes aquilo que me levou a ouvir rap pela primeira vez.

"O que é que falta então neste Rap Tuga !?!?! Diz-nos Tensinho!!!"

Bom, antes demais quero afirmar que RAP, Rythm and Poetry , consiste numa Arte. Arte necessita de Talento. Talento (por maior que seja) necessita de Trabalho. Trabalho é fruto da Dedicação. Dedicação é inimiga da Velocidade e prima da Eficácia.

Até aqui todos concordamos como se da coisa mais óbvia do mundo se tratasse, mas as coisas complicam um pouco quando se trata de aplicar conhecimentos, largar o teórico e passar ao prático, e como disse o meu psicólogo uma vez:

"As pessoas perdem tanto tempo na teoria que as levará à prática, que teoricamente não fazem praticamente nada."

Deixando-me de interlúdios temperados de especiarias que poucos cérebros possuem vou então mais directo ao assunto. Embora não seja, nem me considere, um "old school" , uma "prata da casa" , muitas vezes MCs ainda verdinhos vêm ter comigo e mostram-me rimas para que eu lhes dê uma opinião. Arrisco-me a dizer que 95% das vezes me deparo com coisas do género:

O destino é a porta que guia o cego à saída

Dando rumo à tristeza monótona que nos invade a vida

Desejos filantrópicos consumem o meu ser por dentro

Deixando um único traço no caminho que leva o vento

Tento sair mas não consigo, a morte não deixa

Resta a certeza de que .... Blá Blá Blá .....!!!!

 

Seguindo-se de comentários como "ESCREVI ISTO EM 10 MINUTOS !!!!!!!". Uau.

Isto leva-me a vários tipos de questão, mas prefiro apenas focar um deles que é " Onde é que tu querias chegar ao certo? " . Parece-me uma pergunta pertinente !

É aqui que o meu apego ao Rap Tuga começa a ser tão grande como colar dois camiões com pedacinhos de fita cola. Vou então dar-vos a minha opinião muito sincera.

Estou farto de ouvir por todo o lado " Skill e Flow sem mensagem não vale nada " mas eu posso-vos adiantar que parecendo que não muitas vezes vale MENOS que " Mensagem sem Skill e Flow ". E porquê ? Isto do rap é um CAVALINHO DE TRÓIA !!!! ( Para quem não sabe a história do CavalodeTróia pode ler em http://www.geocities.com/philosophiaonline/800x600/mitologia/cavalo.htm que não vos faz mal nenhum).

Eu dou por mim mtas vezes a bater o pé a ouvir alguns destes comercialóides com dedo mindinho e meio de testa , a prestar atenção às letras deles de " Eu pego esta garota , vou levá-la para o meu cubs \ E digo Baby eu amo a maneira como seduzes " , e penso "porra estes gajos devem ter fumado cócó".....mas oiço!!!!!! Outras vezes dou por mim a receber certos mp3 de Rap Tuga cheios de mensagem , que oiço 2 segundos carrego "Stop" e penso pra mim "vá tu és capaz....são só 2 minutos... tu consegues ouvir tudo" , e efectivamente tento-me esforçar , confesso que 2 minutos é demais para mim mas houve uma vez que quase consegui.

Então porque é que o RAP é um Cavalo de Tróia ? O RAP tem por finalidade ser uma arte que através de música e poesia transmite mensagem que de outra forma não seria transmitida. O pior é que para transmitir seja o que for a alguém tem de se primeiro captar a atenção dessa mesma pessoa, e servindo-me dos dois exemplos acima , quem é que acham que capta primeiro a atenção das pessoas!? Exacto. O comercialóide.

Não quero com isto incentivar a prática do chamado RAP Comercial , mas sim aprenderem a fazer RAP antes de o fazerem , todos temos alguma coisa pra dizer , todos andamos aborrecidos com alguma coisa , mas se o querem escrever sem jogos líricos , sem linhas interessantes , sem figuras de estilo , sem uma boa consistência musical , sem refrões catchy etc. então escrevam um livro !!! ISTO É MÚSICA MEUS AMIGOS !!!!! VOCÊS NUNCA VÃO CONSEGUIR FAZER CHEGAR MENSAGEM NENHUMA A NINGUÉM A MENOS KE TENHAM BOA MÚSICA , BOAS LETRAS , "BOM SKILL , BOM FLOW" (tal como na história do cavalo que passa os portões de Tróia por interesse dos troianos por tal animal) !!!

Deixo esta minha mensagem como ouvinte de rap e não como rapper\produtor , porque como rapper e productor tenho exactamente o mesmo dever que vocês todos de tornar cada vez mais interessante este nosso Cavalinho de Tróia .

X-Tense, Deck-Arte

 

 

Segunda-feira, 9 de Maio de 2005

O que Somos?

Muitos dos rappers da minha zona, depois do trabalho ou da escola, dividem-se entre o Café, a Televisão, Chats na net, o Shopping Center, as ganzas com os amigos, e a vida de player. E neste tipo de hobbys ficam até à hora de se irem deitar.

Quando os vejo pergunto-lhes, quando é que fazem rap. Uns gabam-se e respondem-me que escrevem rimas em 5 minutos, outros dizem que ainda não fizeram quase nada porque simplesmente não têm tempo, dando prioridade às diversões que citei no primeiro parágrafo.

Muitos desses rappers, julgam que basta ter uma esferográfica para se ser MC. Desconhecem que muita coisa mudou e que hoje temos mais funções e responsabilidades. Hoje somos Investigadores, Escritores, Rappers, Rimadores e Músicos.

Somos Investigadores : O MC tem que ser também um estudioso que ouve e analisa as músicas dos outros, pois aí pode buscar inspiração para reinventar-se e crescer artisticamente. A música dos outros MC's serve também de estímulo competitivo para ele poder superar-se e inovar dentro do seu ceio. Rappers que ouvem pouco rap estão obviamente mais limitados do que aqueles que acompanham o que vai saindo, e que se vão mantendo actualizados.

Somos Escritores : Qualquer um pode escrever, mas quem se destaca a escrever rap é aquele que consegue trazer complexidade (arte) nos seus textos, é aquele que consegue singularidade nos seus versos, peculiaridade no vocabulário, uma elaborada construção dos textos (com coerência e linha de rumo), e uma boa abordagem dos temas. Para além disso ele também tem criatividade e imaginação para tornar as suas narrativas invulgares.

Somos Rappers : Qualquer um pode juntar palavras e cuspi-las de forma cadenciada. Mas o bom rapper é aquele que procura envolver com o seu flow, é aquele que harmoniza a sua voz com o beat, é convincente, rima sempre compassado e consegue passar-nos o sentimento que deseja através da sua interpretação.

Somos Rimadores : Qualquer um consegue pôr frases a rimar. Mas a verdade é que cada verso tem mais ou menos 6, 7 palavras / 6, 7 sílabas tónicas. Por isso é fácil se tivermos o texto todo a rimar só a última palavra de cada verso. O bom rimador tenta encontrar todas as formas de rima possível, estando atento a cada sílaba, mas isto sem nunca condicionar o sentido do seu texto e sem nunca ficar escravo da rima e do flow.

Somos Músicos : A preocupação final e a mais importante de todas é a construção de uma boa música. Muitos rappers não conseguem. É mais fácil chegar aqui quando preenchemos os outros 4 requisitos acima indicados. Depois disso fazer uma boa música começa por escolhermos o beat certo para o tema certo; passa por coordenarmos bem o tempo da música para não se tornar cansativo; passa por termos um bom refrão que visa reforçar o som; passa por estarmos consistentes com o nosso rap em todo o tempo da música para que ela não tenha momentos baixos; e pode passar também por adicionarmos elementos extras (como scratches, vozes adicionais ou efeitos) para enriquecer ainda mais o nosso som. Todo o pormenor que sirva de mais-valia é bem vindo.

Ser MC não é só uma questão de fazer rimas, e cuspi-las anarquicamente em cima dum beat. É preciso trabalho, muito trabalho para se fazer algo de jeito. E realmente isto é muito difícil para quem ocupa todo o seu tempo livre em Cafés, Shoppings, ganzas ou player life. Garanto que se gastassem metade desse tempo a fazer músicas, seriam muito melhores rappers e pessoas mais produtivas.

Podemos usufruir de tudo na vida, mas provavelmente a diferença entre os que se destacarão e os que ficarão na 2ª linha, terá haver com o trabalho. É assim em tudo na vida, não há sucesso sem sacrifício e o êxito tem mais de transpiração do que de inspiração.

Valete

 

 

Segunda-feira, 9 de Maio de 2005

“Big Wack”

Ha ha ha. Eu sei que 90% de vocês (pra não dizer 100%), já se dirigiu a um Mac Donald's e ingeriu uma coca-cola e um Big Mac. Mas isto aki é insólito: Big Wack !!!

Então não é que a Mac Donald's quer se envolver mais com a cultura hiphop e tornar-se mais “fixe”?

Rumores, aliás, já é um facto que a MD e Maven Strategies, decidiram galardoar artistas que mencionarem Mac Donald's , Big Mac ou algum produto da sua companhia nas suas músicas. MD está a oferecer de 1 a 5 dólares para cada vez que um artista cite a sua empresa num tema e o mesmo passe na rádio. Esta estratégia, pelo que disse o CEO da Maven Strategies já esta a captar a atenção de muitos artistas visto que não é uma questão de contrato mas simplesmente uma maneira de fazer “advertising” pra companhia e dar dinheiro aos artistas.

Mas parece que apesar da mac donald's não ter referenciado nenhum estilo de música, está mais virada pro hiphop pois esta cultura está neste momento na “moda” e a maioria dos jovens ke dirigem-se às suas lojas ouvem hiphop. Já me chegou aos ouvidos que a bebida alcoólica Seagram's Gin também já fez uma oferta parecida e por “coincidência” o rapper americano Petey Pablo menciona a bebida no tema “ Freak-a-Leek ” foi a música nr 2 nos Billboards de 2004 americanos e passou mais de 350,000 vezes nas rádios americanas. Imaginem a paca que o homem não fez!!! Ui!

Eu sinceramente não sei se o Jay-z e outros artistas como ele que mencionam vários produtos famosos recebem algum dinheiro pela publicidade ou faz parte de puro liricismo espontâneo. De qualquer das formas…parece-me que as grandes indústrias já arranjaram uma nova forma de poder “sugar” algo da nossa cultura e tornar-nos duma vez por todas “ hip-popers ”…. já ke o rap tá tão POPular….

Também já me chegou aos ouvidos que temos um rapper lusitano…aliás,

O grande old school D-MARS a fazer uma publicidade para a MD…não sei

se tem alguma coisa a ver com esta nova “febre” dos $1 por sentença comestível da fast-food mogul mas se não for, só espero não ligar a rádio daqui a uns anos e ouvir um MADLIB ou SAM THE KID a fazer um álbum chamado THE HAPPY MEAL . Ha ha ha ah

Bem tou com fome e espero ke tenha valido a pena escrever isto…vou ver se vou ao MAC . Ha ha ha ha .

sir scratch

PS-Fucking robots!!!-DJ premier

 

 

Domingo, 1 de Maio de 2005

Levanta-te e Ri

O que é que faz uma obra musical chegar ao estatuto de obra de arte? O que é boa ou má música? Para os analistas menos habilitados e mais negligentes, a arte é um conceito indefinido e por isso está disponível à interpretação subjectiva de cada um. Dizem eles, que ninguém está capacitado para regulamentar ou balizar sobre este assunto.

É inegável que o conceito de arte suscita algumas dúvidas e indefinições, mas a ele nunca poderão ser negadas duas condições fundamentais: Beleza e Complexidade. Qualquer criação humana que não tenha o parecer destas duas castas essenciais não poderá ser considerada como arte.

A Beleza sim, é um conceito subjectivo porque está sujeita à avaliação que fazem os nossos olhos pré-formatados. Mas a beleza também é algo inerente à complexidade . Nós só gostamos dos voos e afundanços indescritíveis de Amare Stoudamire porque são invulgares demonstrações desportivas. É algo raro e muito difícil de ser feito. Se fosse fácil e trivial não veríamos beleza naqueles gestos. Mas atenção!!! Para nós espectadores comuns o que Stoudamire faz é complexo, mas poderá não ser por exemplo para um observador atento do Street-Ball ( basquet de rua que não tem nem 1/3 do mediatismo da NBA) – O Underground.

Muitas pessoas que vão a exposições de pintura, interrogam-se sobre o valor artístico de alguns quadros. Eu também o faço. Mas quem sou eu, quando estou a avaliar um quadro? Apenas um analista despreparado que tenta formular opiniões segundo a minha sensibilidade. Bem diferente será a avaliação de um pintor experiente ou de um conhecedor profundo. Eles sim, e só eles, poderão dizer se aquela obra tem complexidade ou não. Porque só eles sabem o que é difícil neste domínio. E a partir daquela complexidade eles verão beleza e valor artístico.

Assim como os impressionáveis se esporram com o reportório lírico/Marketing dos Nellys e 50 Cents, nós MC's (que avaliamos cuidadosamente a qualidade da escrita e os jogos estilísticos) desprezamos por completo esse tipo de rappers de fabrico apressado. Rimos dos impressionáveis porque nesta área somos os conhecedores. Desta mesma forma temos que começar a rir dos críticos musicais – os sabichões de meia-coroa sentados em redacções de jornais e revistas. Aqueles que ouvem rap esporadicamente, e arrogantemente querem tirá-lo dos subúrbios, nomear os melhores mc's, decidir quais os álbuns clássicos, e impor o que é ultrapassado e inovador. São a maior piada desta Stand Up Comedy que é a indústria musical.

( texto incluído na revista Skillz nº 2)

Valete

 

Segunda-feira, 25 de Abril de 2005

A Sociedade Ideal. Utopia porquê?

Há uns tempos atrás, numa entrevista por mail, perguntaram-me como deveria ser a sociedade ideal , segundo o meu ponto de vista. Não podendo aprofundar muito, porque precisaria de 100 mil palavras para o fazer, respondi desta forma resumida que agora partilho com vocês neste blog.

A Sociedade Ideal - Nenhuma sociedade pode ambicionar ser igualitária quando os seus membros têm motivações individualistas e não trabalham em prol do colectivo (é o que acontece nos nossos dias). Em primeiro lugar é preciso perceber que a maior parte das relações entre as pessoas se desenvolvem sobre o estatuto económico. E quanto maior forem as discrepâncias entre as classes sociais maior será a fragmentação na sociedade e maior será a relevância e o sentido dramático da discriminação social.

10 % dos Homens concentram 90 % da Riqueza. É aqui que se centra o problema.

Em quase todas as nações vigoram sistemas neo-liberais, onde as grandes empresas impõem leis e segundo o manual do capitalismo, tentam monopolizar mercados e dilatar infinitamente os seus lucros, fazendo tudo o que for necessário. Explorar, Pilhar, Corromper, Escravizar etc. Tudo vale. E como são essas mesmas empresas que financiam as campanhas eleitorais dos partidos políticos que pretendem chegar ao poder, é fácil induzir que os nossos governantes mais não são que uma extensão executiva dessas corporações económicas.

Na sociedade ideal, o governo não cederia perante as multinacionais, porque ele está lá para defender os nossos interesses (da maioria) e não de meia-dúzia de Lúciferes capitalistas. Na sociedade ideal não haveria contratos de trabalho de 3 meses que só servem para vampirizar os trabalhadores em favor das empresas. Na sociedade ideal não haveria salários mínimos que nem chegam para pagar uma renda de casa no subúrbio; não haveria Macdonals a fazer exploração infantil e a envenenar os nossos miúdos com fast-drug-food; não haveria imigrantes avassalados que só têm opção de fazer os trabalhos que os nacionais não querem; não haveria mulheres com necessidade de fazer broches para ascender na hierarquia machista das empresas. Etc., etc.

Na sociedade ideal, o governo fiscalizaria com determinação as contas de todas as empresas, e preocupar-se-ia mais em tributá-las do que ao Zé povinho cujo o ordenado só chega para se manterem vivos. Na sociedade ideal a TV preocupar-se-ia mais em educar e em divulgar a arte e a cultura do que em garantir dinheiro de publicidade com programas deprimentes como Quinta das Celebridades, Juras de Amor ou a Casa do Toy, da Ágata ou da “Maria Joana”. Na sociedade ideal a escola em vez de ser uma instituição conservadora, formatada e difusora de valores católicos, preocupar-se-ia em dizer aos nossos miúdos que a religião é ignorância, procuraria estimulá-los para o ensino e encontrar saídas profissionais para cada um segundo os seus interesses e aptidões.

A sociedade ideal é uma sociedade justa, democrática, humanista e altruísta...e quem diz que este modelo de sociedade é utópico é porque não tem interesse que ele se imponha.

Valete

 

Segunda-feira, 18 de Abril de 2005

A Fórmula

Há cerca de 6 meses juntou-se num meeting casual, quase sem querer, na Fnac da Baixa Chiado um grupo de vários mcs, desde elementos pertencentes à Horizontal e Matarroa como elementos do cenário hiphop angolano e brasileiro. E quase sem querer, várias nacionalidades, estilos, “escolas” (velha e nova) em conversa, rapidamente se moldaram num saudável debate. Este durou apenas umas horas, opiniões divergiram no que respeita a estilos de produtores americanos, sobre o cenário do hiphop americano, e a inegável influencia que este tem sobre nós.

O que importa salientar, no entanto, sobre este encontro foi o consenso a que se chegou quando todos acordámos que a viragem do século, marcou o fim de uma era fundamental.

Refiro-me sem mais rodeios, ao facto de desde o ano 2001 não se terem verificado no cenário mainstream contractos discográficos com verdadeiros “liricistas”. Salvo raros, mas muito raros fenómenos como o do incontornável sucesso do “College Dropout” de Kanye West, que conseguiu colidir o mainstream com o underground, ou pelo menos agradar dois mundos diferentes.

A chama da nostalgia foi acesa quando conversámos sobre álbuns como “Wu Tang Forever”, “Ready To Die”, “All Eyez On Me”, “Let´s Get Free”, “I Am” só pra mencionar alguns, onde víamos obras que abrangiam tanto a promiscuidade como o respeito pelas mulheres, tanto a inconsciência como a consciência, enfim, falavam de coisas que agradavam a gregos e de certa forma a troianos, eram todos álbuns mainstream, com uma coisa fundamental “CONCEITOS” /“TEMAS” que carregavam uma alma pessoal, aqueles álbuns tinham mcing, back-pack rhyming na sua forma mais pura.

Já a partir de 2001 será que alguém é capaz de me dizer quantos beats do Preemo é que saíram num álbum mainstream? Do Pete Rock? Pra mencionar apenas os mais evidentes. O hiphop da superficie tornou-se num circo de fórmulas, acabaram-se os conceitos, a criatividade e a imiginação é limitada por certos padrões e “dumbed down” lyrics, desde o Eminem cujo último álbum mais uma vez recorreu de forma cansativa à fórmula da exposição pessoal, dos skits do Paul Rosenberg etc…Enfim, algo que funcionou lindamente no “Marshall Mathers” e no “Eminem Show” mas que quase faz regurgitar uma terceira vez, parece que o Slim Shady enterrou o lápis de uma vez por todas.

O 50 cent, que no “Power Of The Dollar” e álbuns anteriores nunca mostrara o génio do Eminem, mas que tinha conceitos e uma criatividade impressionante, agora recorre à fórmula mais bem sucedida de todas “gangsta de plastico” que tem necessariamente a seguinte disposição:

- o som da riqueza e bling bling

- o single da discoteca

- o som da ameaça

- o som da droga

- o som a degradar as mulheres

- o single do amor

- e o resto er...blingbling, armas, armas, blingbling, e sou o melhor. E tá feita a receita, não se consegue desprender disso, e todos os sons no “Massacre” se repararem têm de proposito só 2 versos e refrões cantados pra tornar a fórmula mais evindente. De resto temos os Nellys, os Chingys que nem sequer merecem ser criticados.

Por outro lado temos o Jay-z que é um hipócrita que fingiu desistir do hiphop só pra voltar sem sequer ter passado 1 ano, mas um hipócrita necessário e com um talento que o Nas n tem, nem quer ter, que é influenciar a indústria, espero que ele volte subjectivo como ele sempre foi com um álbum com alma como o “Blueprint”, ou como o “Black” pra mudar um bocado esta letargia e inércia de receitas e fórmulas que só estragam o hiphop.

Hj em dia amigos, quem não tem acesso à net, quem não tem acesso ao hiphop independente, (que, quer comerciais aceitem ou não, é o coração e alma desta cultura) está limitado. Quem só ouve hiphop mainstream hj em dia não é amante da cultura “hiphop” só de “hip-pop”. Agarrem nas revistas independentes sérias, pesquisem, procurem, mexam-se. Dizem que o hiphop está a morrer e que estão decepcionados com o hiphop isso é a mais pura ignorância. Saem como nunca álbuns independentes, alguns mto maus é verdade mas igualmente obras lindas, melhores que muitos álbuns de 5 mics da corrompida source.

Um exemplo vivo disso são os Zion-i que saíram da Raptivism uma editora independente, formaram a deles e estão agora na world tour, do K-os que lançou no Canadá um álbum “consciente” que vendeu 1 milhão de cópias, do Masta Ace que está prestes a lançar a editora dele, do El-p que fez a Defjux, e de tantas outras referências que podemos utilizar. desde a Just Us League à Stone Throw e 7heads.

Temos de deixar de sonhar em atingir metas utópicas de querer integrar editoras grandes, q nos vão limitar a fazer refrões pra rádio e a cozinhar fórmulas de vendas, e fazer o nosso estúdio em casa, criar as nossas editoras, os nossos sites, os nossos engenheiros de som e rps. E se acreditarmos um bocado, se houver mais 5 editoras como a Horizontal, Loop, Foot Movin etc... e mais 5 lá em cima como a Matarroa conseguem conceptualizar onde é que poderíamos estar?...o meu desafio ao hiphop tuga é esse. Mexam-se.

Salvaterra

 

 

Quinta-feira, 14 de Abril de 2005

Buzz

O Boom do rap português no início deste novo milénio, traduziu-se também numa explosão numérica de novos rimadores. Não chegamos a ter 10 editoras especializadas (daquelas que editam álbuns regularmente), mas temos milhares de rappers à espera de uma oportunidade para mostrar que existem.

O que mais fode a cabeça dos novos rappers, é verem que a meritocracia não é um conceito muito tido em conta neste espaço do Hip Hop nacional. Quando circulo pelas ruas e encontro alguns rappers, o que mais oiço são frases do tipo: “ Como é que certos gajos conseguem lançar álbuns?” ”São sempre os mesmos nas mix-tapes, nos concertos, nas compilações”. “ O pessoal não apoia os mais novos”

De facto existe neste momento no Hip Hop português um sistema de clientelismo, que favorece principalmente os mais antigos e os que já têm relações de amizade estabelecidas com quem tem os meios para editar ou veicular trabalhos discográficos. Não é nada de novo, existem alguns rappers que só conseguem entrar em mix-tapes, compilações, álbuns ou mesmo editar um cd, não pelo seu talento, mas pela relação próxima que têm com quem é responsável por esse tipo de lançamentos.

Sabendo nós que existe uma vaga para cada 100 pretendentes, é muito fodido percebermos que algumas destas vagas estão a ser ocupadas por quem não tem habilidade nenhuma com o microfone. Esta cultura da “Cunha” e “Job for the Boys” é uma praga não só no nosso Hip Hop, mas em todos os sectores da sociedade portuguesa.

É muito difícil combater isto, até porque como é de arte que se trata, não pode existir nenhum tipo de legislação, que estipule regras de conduta a este nível, para quem tem responsabilidades editorais. Quem faz a selecção não pode ser preso por só escolher os amigos (por mais limitados que sejam).

Os rappers “não instalados” têm que ultrapassar a fase das lamentações que lhes afoga na inércia, e começar a construir o sonho por eles próprios.

Desprendam-se das velhas desculpas de sempre que nos dias de hoje já soam a non-sense.

Desculpa nº 1- Não consigo arranjar beats - Se não têm quem vos faça beats, e se ainda estão na fase das maquetes, arranjem instrumentais tirados da net ou de cd-singles e cuspam o vosso rap por cima… Para gravar um álbum precisarão de beats originais. Se todos os produtores se recusarem a dar, é porque o vosso rap ainda está muito cru e ainda não é a altura.

Desculpa nº 2- Não tenho sítio onde gravar – Com um PC, e tirando (gratuitamente) programas da net tipo Acid Pro ou Cool Edit, basta teres um microfone para gravares as tuas músicas. Para além disso, já existem vários estúdios que cobram por cada música um preço inferior ao dos ténis que tens calçado.

Desculpa nº 3- Não tenho forma de divulgar a minha maquete. Se a vossa Demo não entrar para a secção de maquetes das revistas Hip Hop Nation ou Skillz, e se não passar nos programas de rádio Soulstício (RDP Àfrica) ou Nação Hip Hop (Antena 3), façam umas cópias e ofereçam a várias pessoas. Se for bom, o produto vai circular a 100 à hora, e se deram a vinte pessoas daqui a um mês já duzentas terão ouvido. Se for mau, não circula, e será também um sinal para saberem que não têm gente a apreciar o que fazem.

Com a tua maquete a circular pela Internet e pelas ruas, estás a fazer o teu nome, e garanto-te que se tiver qualidade, serás naturalmente convidado a participar em álbuns, mix-tapes e compilações. Muito provavelmente também terás as editoras atrás de ti. Por mais clientelismo que exista, não há ninguém que não queira trabalhar com um grande MC.

Vai ter com as editoras só quando já tiveres algum buzz e historial. É bem diferente levares a tua maquete para uma editora quando já és um rapper conhecido do que quando ainda és anónimo. As editoras de Hip Hop raramente editam álbuns de rappers sem historial, até porque é muito mais difícil prever o nível de aceitação que terão.

Para tudo isto, costumo dar o exemplo do SP. É um rapper que começou a rimar há muito pouco tempo, nunca entrou num álbum, compilação ou mix-tape, mas já tem um ruidoso buzz pela comunidade Hip Hop. Preocupou-se em fazer circular os seus sons pela net, ofereceu várias cópias da sua Demo e foi aceitando quase todo tipo de concertos (até aqueles inaceitáveis).

Valete

 

Domingo, 3 de Abril de 2005

Cabeça no Lugar

Mais um ano se passou... em mais um ano muita coisa aconteceu. E realmente, mesmo que os mais cépticos digam que não, mudou muita coisa. No que diz respeito à música tenho me perguntado - o que se passa? O que falta para darmos o passo em frente? Aquele passo que vai virar definitivamente a mesa ao contrário. Musicalmente, temos grandes e talentosos escritores, verdadeiros contadores de histórias que não têm tido a verdadeira atenção por parte da grande maioria. Essa grande maioria é o povo medíocre que continua a ter uma atitude passiva perante a mudança.

Esta semana tenho pensado em todos aqueles grandes artistas que este mundo teve a sorte de conhecer e que por sua causa mudaram a mentalidades. Infelizmente, muitas vezes, o reconhecimento só acontece depois do seu desaparecimento. Estou me a lembrar de Galileu Galiei, Platão, Mozart, entre muitos outros... Foi necessário que o próprio tempo desse a sua chapada sem mão ao mundo! Para que todos entendessem a grandeza dos pensadores obscuros.

Quero entender o que é necessário fazer para que as coisas mudem, e a mesa se vire.. A única conclusão a que chego, é que tudo isto passa por mim! Eu sou a força para mudar as coisas! Sou eu quem pode mudar tudo!

Passamos a vida a depositar a culpa na terceira pessoa do singular. Achamos que as nossas ideias estão sempre correctas, os outros é que estão errados!

Felizmente já deixei de pensar assim. A vida é um conjunto de fases, neste momento estou na de “acreditar que EU sou capaz de mudar...” Tenho tido os maiores exemplos na vida, e são eles que me fazem acreditar que um homem consegue ter tudo o que quer, desde que isso seja uma lei na sua vida, e não apenas um lema.

Martin Luther King morreu por um modelo de vida, por uma esperança para si e para os seus. Nelson Mandela levou até ao limite aquilo que acreditava ser mais forte que a sua própria vida... Será que temos hoje em dia homens e mulheres capazes de fazer o mesmo? Levar uma crença até às últimas consequências?

Tenho a impressão, que uma percentagem de pessoas - maior do que aquela que eu queria - não acreditam nas suas próprias palavras. E porquê? Porque têm tudo como garantido. Então procuram sempre o caminho mais curto – e fácil – para conseguir o seu objectivo. Quando não conseguem algo que está um pouco fora do seu alcance culpam o “sistema”, as leis... esquecem-se que vivemos numa democracia onde todos podem ter o que querem, se isso for uma prioridade interior, se colocarmos de lado a inveja transformando-a em estímulo para alcançar objectivos.

Nunca tive muito, tal como a grande maioria dos africanos que vieram parar a este país. Com as mãos vazias, e um futuro negro tudo parecia estranho e inatingível. Hoje, passados 25 anos, considero-me uma pessoa feliz! Sempre tive aquilo que muita gente não conseguiu ter – a cabeça no lugar.

A concentração, um ideal, um conceito, o mesmo hoje e sempre contra tudo e contra todos. “Mantain focus...” como disse o guru. A nossa liberdade é a nossa mente, quando conseguirmos ultrapassar o nosso próprio preconceito – de inferioridade ou superioridade – podemos aprender com todos.

Porque o mundo não somos só nós.. apesar de cada um de nós ser um mundo.

Confesso que a idade começa a ser um posto. Não se pode obrigar um puto a ter grandes ideais de vida quando ele ainda pensa em miúdas. Muitas, vezes gostaria de entrar na cabeça dos nossos jovens e tentar perguntar o que eles pensam quando pegam no microfone! Porque será que tudo me soa tão vazio e redundante? O conteúdo do que dissem é fraco sem vontade e sem verdade. Mas de qualquer modo, eu não sou o dono da verdade,mas sou o dono da minha verdade. E a minha verdade é absoluta no que diz respeito à musica e no que diz respeito à vontade que tenho de passar uma mensagem que têm como base os meus ensinamentos.

Eu hei-de continuar a espalhar essa mensagem, positiva, recheada de ideais que me mantêm forte e com esperança num futuro mais risonho para a minha música para os músicos que acreditam sem vacilar.Penso em homens como: Che Guevara, Malcolm X, Fidel Castro, Cassius Clay (Muhamed Ali), Bob Marley. Eu cresci a acreditar nestes homens verdadeiros líderes de opinião. Por isso eu quero ser assim! Quero ser como eles. E daqui a vinte ou trinta anos a minha musica, a minha poesia poderá se tornar imortal e não banal se eu acreditar que posso fazer a diferença.

NBC

 

Segunda-feira, 28 de Fevereiro de 2005

Apoiem o Hip Hop Tuga

Viva,

Não podia ficar insensível a um assunto como este Razz. O (pouco) público do HipHop não tem noção dos custos para lançar um cd no mercado. Teremos HipHop Tuga de qualidade no futuro? Se depois de tantos custos o cd vender pouco (sabendo que há público para ele) duvido!

Mas os custos são assim tantos? Claro que tudo é relativo, mas para o pessoal do HipHop é!

Vamos falar de custos puramente financeiros, nada de tempo de produção, de escrita, de marketing, de management, de registos, e Cie... Será um álbum de 15 faixas com a capa a cores na sua caixinha de plástico. Depois do tempo passado na elaboração do álbum (músicas, letras, design da capa,...)

-Gravação estúdio onde o preço médio é de 20€/hora (ainda bem que existe o Konpasso Razz). Só para passar os instrumentais para as máquinas do estúdio são umas 4 horas (80€), gravação de voz 50 horas(1000€), mix 30 horas (600€).

1680€=80+1000+600

-Mastering que é a finalização sonora do álbum (equalização, compressão) Vamos falar dum mastering digital, porque um analógico fica por volta dos 1500€.

350€

-Registo da obra (sem ele não se pode fazer as copias) inscrição 150 € + 2.5 € por música e outro tanto por letra .

225€=150+(2.5x15) +(2.5x15)

-Elaboração dos fotolitos que são os negativos para a impressão da capa e folhete.

120€ (varia consoante o nº de cores e de páginas)

-Direitos de autor e autorização de reprodução mecânica pagos na SPA para poder fabricar os cds (as cópias).

320€

-Cópias com a capa tudo pronto para a loja. Fazemos 500.

500€

Já temos a conta bancária com menos 3195€ e o nosso album ainda está na cave. vai ter que ir rapidamente para as lojas. Mas antes de tudo! A que preço tem de ser vendido? Então vamos fazer as contas. Por quanto me ficou cada cd ==> 3195:500 = 6.39€ Aiiiii isto doi!

Sabendo que a distribuidora (kem põe os cd's nas lojas) cobra +/- 1.5€ por cada cd, sabendo também que a loja quer uma comissão de 33% do valor do cd. A distribuidora vai vender o cd a loja por 6.39+1.5= 7.89€. A comissão da loja será de 2.63€ (33% de 7.89) 7.89+2.63= 10.52€ e para acabar, a loja aplica o IVA de 19% o que dá um cd nas lojas a 12.52€

Acrescento que estamos a vender o nosso cd a 12.52€ e não ganhamos nada! Contas bem feitas até perdemos porque não foi contabilizado o tempo todo do processo.

Então e agora não há dinheiro para a promo (flyers, pub,)? E para video-clip?Pode haver se acrescentarmos 2.5€ por cd ou então vender umas 1000 cópias. Não é fácil pois não? O pessoal que saca da net tem consciência disso? Acho que não. Ninguem gosta de trabalhar para aquecer. O que acontece é que os artistas tentam ter menos despesas para não perder dinheiro (gravações caseiras, folhetes de cds com pouco conteúdo,...) dai o problema da qualidade. Querem qualidade? Comprem e apoiem o HipHop Tuga.

O konpasso está a desenvolver a Konpasso Store para que o público do HipHop de qualquer zona de Portugal possa ouvir e comprar online os cds ao melhor preço. http://store.konpasso.com Vamos por o máximo de obras Tugas aos poucos.

Agora não têm desculpas para não apoiar o Hiphop Tuga!

Bom ano 2005 a todos e todas.

Pass One (texto gentilmente cedido pela Konpasso)

 

 

Sexta-feira, 18 de Fevereiro de 2005

O Meu Voto

Vou votar Bloco de esquerda

 

Voto na Ruptura

Voto no dinamismo

Voto no combate à exploração laboral (prática comum nos dias de hoje)

Voto contra o seguidismo ao Imperialismo americano

Voto no combate à pobreza

Voto no fim da alienação do património do estado

Voto numa aposta na Educação (para deixar de ser um privilégio, mas sim um direito)

Voto no combate à evasão fiscal -principalmente das grandes empresas

Voto contra esta União Europeia liberal e federalista

Voto em políticos sérios e não em populistas e demagogos

Valete

 

Quinta-feira, 17 de Fevereiro de 2005

Trabalha(literalmente)- Monta o teu Estudio profissional em 2 meses!

Material e qualidade, dois dos aspectos que mais dificulta o desenvolvimento e/ou possibilidade de nós mcs e músicos podermo-nos expressar quando não somos apoiados por alguma editora ou alguém com a possibilidade de nos auxiliar. E na maior parte das vezes o grande erro das pessoas, quando falo pessoas tambémme incluo nesse monte, é o esperar e/ou andar a pedir ajuda a terceiros. É certo que por vezes resulta, mas, pergunto-me me a mim mesmo:
Será que vale a pena? Hum...talvez, mas na minha opinião a pior coisa que pode acontecer a um artista é não poder ser independente ou livre o suficiente e ter que: DEPENDER DE...

O que estou a tentar fazer é talvez encorajar a todos novos artistas que arranquem essa preguiça das costas com um bom banho de agua fria e arranjem um TRABALHO. Nem que seja part-time, nem que seja num " McDonald's ". Uma das impressões que tenho do pessoal em Portugal, e não só em Portugal, também em Angola, Brasil e todos os Luso-hip-hop dependentes é que não estão devidamente informados ou não têm "knowledge" correcto acerca das coisas. Considero-me um dos sortudos por ter a oportunidade de estar a estudar música (produção e engenharia) num grande colégio, o que me deu uma melhor e mais ampla percepção do que afinal é preciso para que o TEU track esteja a bombar e com qualidade suficiente para rondar as rádios, carros e walkmans!

Esquece....pro-tools, esquece milhares de euros em estúdios, esquece tudo ke te disseram. Talvez após uns anos irás certamente ter que te render a um MPC e muita hardware, por momentos esquece tudo isso (falo para novatos em home-studios). É assim: PC ou Mac com possivelmente 500mb de ram, uma hard-drive ou (disco duro não sei) com bom espaço (digo tipo 30Gb + ou -),Um bom software studio(tipo Reason 3,FL studio 5,Ableton 5 ), um bom sequenciador( Cubase SX,Samplitude,ou Acid ) e um controlador MIDI tipo piano ou drum pad a-la mpc como o AKAI MPD-16. Outros possíveis softwares que devem ajudar muito pode ser o Soundforge 7 , algo que te vai ajudar a manipular loops e samples de forma muito mais rápida e eficaz que num minúsculo ecrã das MPC séries. Em termos de qualidade um bom microfone condensador é perfeito (ex. M-audio LUNA ) e um soundcard ou placa de som se possivel fire-wire tal como M-Audio series ou uma Mbox (pro-tools acessível relativamente ao preço). Tudo isto dá-te um bom estúdio no quarto e custará se já tiveres o PC, na ronda dos 1000e, o que rende muito e até podes fazer paca se puseres ppl a gravar lá, o software hoje dia ta todo na net. Se tiverem dificuldades dêem-me um toke! Se arranjarem um trabalho no verão ou assim, …têm o estúdio em 2 meses! não sei se é uma ajuda mas espero que sim....qualquer dica plu_conexz@hotmail.com
Paz
P.S.-Abre os Olhos!!!!!

Sir scratch

 

Segunda-feira, 17 de Janeiro de 2005

De Nós para Nós

Eu, como produto de uma época pardacenta, em que falar-se numa possível afirmação do Hip Hop no espaço musical português, era algo irrisório e hilariante, alegro-me ao ver que hoje, esse pensamento outrora indecoroso até é partilhado pela maioria das pessoas.

O Hip Hop nacional hoje é um fenómeno visível, robusto e imperecível. Mas como nos tempos de clandestinidade continua a ser desacreditado, injuriado e muitas vezes negligenciado por inúmeras corporações ligadas a esta indústria musical, onde por vezes parece só existir uma cama onde todos dormem nus, sem qualquer pudor em resvalarem-se por caminhos promíscuos e imorais.

Provavelmente, nos tempos que correm, o Hip Hop é de todos os estilos musicais, aquele que consegue ter uma maior percentagem de álbuns editados em Portugal. Só em 2004 foram mais de 20. Os que falam em incontinência editorial, certamente desconhecem a quantidade de grupos que se agregam neste fenómeno musical e certamente ignoram que apenas 0,1% (como é óbvio este valor não tem precisão matemática) destes projectos é que chegam a editar um álbum. Paradoxalmente ao facto de ser a corrente mais fértil da nossa música, o Hip Hop português continua a ser dos géneros menos ouvidos nas rádios.

Percebi há pouco tempo, que não é uma questão de formatos, perfis, audiências ou filosofias. É tudo uma questão de proveniência. Quase todos os cd's de rap com edição portuguesa, são produtos independentes e sem amparo de editoras majors. Logo não têm direito a passar nas rádios. Hão-de experimentar um dia, enviar dois envelopes com o mesmo cd lá dentro para as maiores rádios nacionais. Um com o sticker da Universal e outro com o sticker da Local (editora independente). Provavelmente o envelope da Local nem sequer é aberto, e o cd que saiu do envelope da Universal garante uma rotação incontável nas rádios.

1ª Conclusão: As grandes rádios portuguesas, mais não são que canais de promoção das grandes editoras.

2ª Conclusão: Enquanto não houver Hip Hop tuga nas Major Labels, não haverá Hip Hop tuga nas rádios.

O problema deste estado de sobrevivência do rap nacional, não tem só a ver com o descrédito que lhe é dado pelos espaços de divulgação musical, mas também com uma cegueira crónica de que algumas instituições que se movimentam na indústria ainda são vítimas. Senão vejamos: Muitas distribuidoras estão mais preocupadas em reunir catálogos de editoras de Hip Hop americano, mesmo só conseguindo vender 50 cópias de cada álbum, do que assumir o compromisso em distribuir álbuns de rap lusitano. Estes sim, precisariam muito mais, e certamente lhes garantiriam valores bem superiores.

Em relação aos jornais e revistas que têm no seu interior páginas dedicadas à crítica e a análise de álbuns editados, e que a toda a hora examinam de forma superficial álbuns de Hip Hop, como se os leitores entendidos não fossem perceber que por trás daquelas palavras sumptuosas não está nada mais do que um leigo tresmalhado, não terá chegado a altura dessas publicações incluírem nas suas redacções alguém que saiba pelo menos o ABC no que diz respeito ao Hip Hop?! Será desleixo ou desrespeito? Não, desculpem a minha ingenuidade. Esqueci-me que o Hip Hop é apenas um movimento de putos deslocados e insubordinados e como é natural não pode ter ninguém com capacidade para fazer críticas de álbuns em publicações de renome. Ops!! Será que tirei as palavras da cabeça de alguém?!

No meio deste cenário preconceituoso, conservador e submisso (às grandes editoras) existem sempre uns inconformados, que apesar de servirem o Sistema, tentam dentro dele conseguir pequenas revoluções. Henrique Amaro (Antena 3), António Santos (RDP África), Rui Unas (Sic Radical) e claro, José Mariño (O Nosso) não pensem que estamos desatentos! Toda a comunidade Hip Hop tem observado a vossa batalha e tudo o que têm feito por nós. Em nome de todo o movimento agradeço-vos e presto-vos a minha homenagem.

A raiz deste problema de desconsideração e de menosprezo pela nossa comunidade, reside no simples facto de nos lugares onde se divulga a cultura portuguesa, estarem apenas pessoas que sempre que ouvem falar de Hip Hop, lembram-se de sorrir, gesticular e dizer “Yo, tá-se bem”. Que tipo de abordagem pode ter um estilo musical que é alvo de estereótipos grosseiros como este?!

Muita gente na comunidade Hip Hop ficou indignada, com a contracapa de 28 de Março de 2004 no Jornal de Notícias, em que se enxovalhava de forma ordinária uma revista e todos os membros do nosso movimento. Também fiquei. Mas ao contrário de muitos consegui perceber que aquela calúnia ao Hip Hop patrocinada pelo JN, mais não foi que uma manifestação sincera daquilo que vai no íntimo de muitos desses pseudo-agentes culturais que são assalariados pelos “nossos” órgãos de informação.

Nada a fazer. Apenas deixo um apelo a todos os Hip Hoppers, que continuem a apoiar o nosso crescimento (por mais isolado e separatista que seja), e que não compactuem com essa contínua atitude “Yo” que os média e as editoras querem promover para nós. Não se verguem por mais publicidade e fama que eles vos dêem.

( este texto também foi incluído na revista Lusobeat nº 5 )

Valete