Domingo, 30 de Março de 2008



Bófias

Hoje, ia eu a sair do trabalho, encontrei no OlivaiShopping um ex-rapper tal como eu.

De seu nome Kaiser, ele virou GNR na altura e agora PSP. Achei curioso o facto de alguém que vibrava (e talvez ainda vibre…) com o Dre a dizer “Fuck the Police”, se tenha tornado efectivamente num.

Falámos da vida, de como era quando nos conhecemos, de como o rap tinha evoluído… passámos uns bons 15 minutos na palheta. Penso que o Kaiser terá ido para casa, cansado como sempre a pensar nas merdas dele. Eu fiz o mesmo…fui para casa, cansado como sempre, a pensar nas merdas dele.

Imagino o dia-a-dia dele. Saber que 90% da população não gosta dele simplesmente porque os pais também não gostavam, da mesma maneira que 90% da população é cristã só porque os pais também o eram. Deve ser deveras fodido acordares às 8.00 da manhã (custa a todos) e teres motivação para ir para um trabalho que provavelmente não curtes mas que te paga a renda. Teres que pensar enquanto ainda estás meio ensonado que vais sair porta fora para enfrentar um monte de gente que desrespeita uma farda que nem tu próprio respeitas. Ouvires comentários sussurrados do tipo ‘não fazem nada…' , ‘lá vai o porco…' , ‘corruptos do caralho…' – só para citar os menos pejorativos.

Acreditem que demorei 45 minutos entre metro e comboio no caminho de casa envolto nestes pensamentos. É verdade que também não gosto da polícia mas… e os polícias que são bons ? Por muito poucos que sejam… o que é a vida deles?

Terem que tratar o melhor que podem de nós, mesmo quando não queremos ser ajudados, terem que aturar um chefe corrupto e filho-da-puta, terem que receber uma miséria relativamente ao risco que correm quando são destacados para rusgas em bairros perigosos, terem que ser um exemplo para uma sociedade que se está bem a cagar para o que eles são. A polícia enquanto organização devia falir, ruir, desaparecer. Mas os polícias (e tanto aqui como no texto em geral, falo só de alguns, não da maioria) enquanto cidadãos e pessoas merecem (à partida…) o mesmo respeito que damos a um padeiro, a um carpinteiro ou a um engenheiro.

Talvez este texto não fosse o que vocês gostariam de ver, mas para sermos melhores pessoas temos que trabalhar nas merdas que custam, não nas fáceis. Nós gritamos paz a torto e a direito, somos todos muito ‘conscientes' e ‘humanistas' mas… só nalguns casos não é?

Podemos ter amigos, conhecidos ou até mesmo família numa qualquer instituição policial. E eles para nós não são o bófia filho-da-puta, nem quando estão fardados. São sempre o Zé Manel ou o António que comemora connosco um golo do nosso clube, que nos conhece desde putos e por aí fora.
Lembrem-se que todo o bófia é família de alguém. Portanto façamos um esforço - antes de partir para o insulto - de controlar o ‘estereótipo' que temos, visto que a malta do rap também não gosta muito de ser ‘estereotipada'.

‘Ah e tal… a bófia só nos insulta e só nos enche de porrada…'
Se tu fosses bófia, ias gostar duma cambada de putos que te insultasse a torto e a direito?

‘Ah e tal… a bófia não sabe o que é o rap, não respeita a nossa cultura….'
Se tu fosses bófia, ias respeitar quem te desrespeita a ti e a tudo o que representas?

E para não ser chato vou parar com os exemplos…

Em verdade vos digo o que já o meu avozinho dizia:

NÃO FAÇAS AOS OUTROS O QUE NÃO GOSTAS QUE TE FAÇAM A TI
QUEM QUER RESPEITO, DÁ-SE AO RESPEITO

Eu acredito nisto, tu acreditas?

 

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